Discoteca Básica Bizz #145: Small Faces - Ogdens' Nut Gone Flake (1968)


Dizem que um disco perfeito é aquele que serve como trilha sonora para um período. E se essa trilha se restringe apenas a um determinado local? Foi o que aconteceu com Ogden’s Nut Gone Flake, lançado em 1968 pela banda Small Faces. De saco cheio com a badalação em cima de Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, o grupo liderado pelo guitarrista e vocalista Steve Marriott elaborou um álbum tipicamente londrino para que os ingleses curtissem a ressaca do verão do amor.

O disco representa também uma transição na carreira da banda, formada em 1965 em torno das figuras de Marriott e de Ronnie Lane (baixo e vocais), dois viciados em música negra americana. Com o passar do tempo, porém, eles se interessaram por explorar seu passado inglês. Em vez de Muddy Waters e Motown, ouviam gente como George Formby (músico-comediante, uma espécie de Juca Chaves da terra da rainha).

De maior banda mod da Inglaterra (aqueles caras que estavam por dentro de tudo e se vestiam de forma impecável), os Small Faces se tornaram uma espécie de apóstolos do rock de cabaré. Ogden’s Nut Gone Flake traz uma mistura dessas influências e referências. Soul e psicodelia ainda estão presentes no som do Small Faces, mas diluídas em meio a um amalucado show de variedades londrino. Algumas das melhores canções que Steve Marriott e o falecido Ronnie Lane escreveram estão neste álbum. A faixa-título, por exemplo. Trata-se de uma instrumental atmosférica, cheio de phaser e outros efeitos. O disco segue com outras maravilhas, como a apaixonada balada "Afterglow", a cínica "Rene" e a otimista "Song of a Baker".


O grande hit desse trabalho foi "Lazy Sunday". Com seu refrão no estilo de músicas que tocavam em pubs e vocal tão carregado e londrino que chega a ser incompreensível, a canção nos convida a um típico passatempo inglês: curtir o domingão sem fazer nada. Só que, no caso, com muito ácido na cabeça.

O lado B é preenchido por uma suíte chamada "Happiness Stan", que foi dividida em seis partes. Para dar um clima verdadeiro de music hall, o grupo chamou para unir as faixas o comediante Stanley Unwin, que narra tudo de uma forma bem particular.

Ogden’s Nut Gone Flake foi o último momento de glória para os Small Faces. Depois do lançamento do álbum, a banda partiu para uma turnê pela Austrália, que ficou marcada por pouco público e muita zona entre os músicos. Marriott deixou o grupo de uma maneira original: no palco, enquanto os músicos improvisavam uma jam. Formou o Humble Pie ao lado de Peter Frampton e virou um ser errante durante anos até morrer num incêndio, em 1991.

Ronnie Lane, por sua vez, recrutou o guitarrista Ron Wood e o cantor Rod Stewart (ex-Jeff Beck Group) e mudou o nome do grupo para Faces. Depois trabalhou ao lado de Pete Townshend e de outros artistas até ser consumido pela esclerose múltipla - mal que o matou em 4 de junho de 1997.

Ouvido hoje, Ogden’s Nut Gone Flake nos remete a uma época em que a juventude da Inglaterra começava a se orgulhar de sua cultura. Não é muito diferente do que anda acontecendo agora com Oasis, Blur e outros, certo?

Texto escrito por Paulo Cavalcanti e publicado na Bizz #145, de agosto de 1997

Comentários

  1. Marriot um ser errante kkkk pelo jeito vc nao escutou o q ele fez nos primeiros álbuns do humble pie neh

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