Discoteca Básica Bizz #147: Metallica - Master of Puppets (1986)


No começo dos anos 1980, o heavy metal sofreu uma de suas maiores mudanças. Enquanto os grandes nomes da época (Iron Maiden, Judas Priest, Ozzy Osbourne) inflavam o imaginário dos fãs com letras cheias de fantasia, músicos metidos em calças de lycra coloridas e palcos repletos de sacanagens cenográficas, uns malucos da costa oeste norte-americana começaram a se destacar no underground, trazendo o gênero para o mundo real.

O figurino carnavalesco foi trocado pela roupa detonada do dia-a-dia: calça jeans colada ao corpo, camiseta de banda e tênis cano alto (fodidos e emendados com silver tape). O discurso começou a mostrar preocupações sociais. Trocando em miúdos, desapareceu a distância que existia entre o palco e plateia. Herdados do punk rock, o mosh e o stage dive passaram a virar costumes de lei nos pequenos clubes que acolheram a então nova geração de bandas.

O Metallica foi o grupo que mais se destacou nessa leva. Inovador desde sua primeira demo tape (ainda com o guitarrista Dave Mustaine, hoje líder do Megadeth), o quarteto estreou em disco com Kill 'Em All (1983). Nele, o Metallica acelerou as batidas, valorizou o trabalho das guitarras e tornou-se mais agressivo - não confundir com barulhento. Inicialmente, essa mistura foi classificada como speed metal. Mas pouco depois surgiu a expressão thrash metal, batizando o gênero que fez o heavy metal deixar de ser coisa de nerd pregossauro.


Três anos se passaram, o movimento migrou da Califórnia para a Europa e, quando deu pinta de que havia inovado o suficiente, veio Master of Puppets. Aí, a coisa saiu de controle. Nunca tinha se ouvido sons assim. Os "metaleiros" - termo inventado pela repórter Glória Maria, da TV Globo, durante a cobertura do Rock in Rio em 1985 - não acreditaram no que ouviram. Pesadas ao extremo, com um timbre grave, porém limpo, as guitarras formavam uma massa sonora impressionante (ouça a faixa "Disposable Heroes"). A partir daí, praticamente todos os guitarristas de metal tentaram chegar ao som que o Metallica tirou. Foram criadas várias lendas a respeito de como tirar um som parecido no estúdio - teve gente que chegou até a microfonar os amplificadores pela parte de trás. Até que descobriram o óbvio ululante: o segredo não estava no equipamento, nem em como utilizá-lo, mas sim na palhetada. Como dizem os guitarristas, na "mão direita".

Master of Puppets foi um divisor de águas. O Metallica aprimorou o estilo mostrado nos álbuns anteriores, com músicas mais trabalhadas, cheias de variantes. As melodias ficaram ainda mais marcantes e o grupo colocou um pezinho no mainstream. Agradava a gregos e troianos. Gente que gostava de metal tradicional, os radicais que só ouviam esporro e - principalmente - os que não curtiam metal passaram a consumir o som da banda.

Embora o Metallica tenha mais tarde ficado ainda muito maior, o thrash metal viveu seu melhor momento ali. O underground ferveu e novas bandas, clubes e festivais pipocaram no mundo inteiro.

Texto escrito por Robert Halfoun e publicado na Bizz #147, de outubro de 1997

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