Discoteca Básica Bizz #169: Slayer - Reign in Blood (1986)


Seja bem-vindo ao mundo dos pesadelos patrocinados pelo quarteto californiano Slayer, povoado por anjos da morte, assassinos sádicos, sacrifícios e chuvas de sangue. Os temas, hoje banalizados e esgotados, causaram furor na época em que todos queriam levar o heavy metal ao extremo no binômio velocidade/agressividade.

Reign in Blood, lançado em 1986, traz o Slayer na sua melhor forma, com os diabólicos guitarristas Kerry King e Jeff Hanneman, o chileno Tom Araya no baixo e vocal e o tremendo baterista cubano Dave Lombardo, impecável na técnica e rapidez. Lombardo comentou certa vez sobre a predileção de todos por hardcore - não o de Green Day ou Rancid, que receberam essa nomenclatura recentemente, mas o punk rock seco e cru dos anos 1970 e 1980, de gente como o Circle Jerks e o GBH - o que foi confirmado anos depois com o álbum de covers Undisputed Attitude, de 1996, um protesto contra o mau uso do nome.


Em Reign in Blood a veia core se misturou ao sangue sujo do speed metal e deu no que deu: um disco de raro impacto nos ouvidos, que fez com que outras bandas à época consideradas ferozes soassem inofensivas como o Abba. Fora a maldade natural dos integrantes, outro fator que contribuiu para tamanho peso foi a produção do barbudão Rick Rubin, o descobridor do Slayer. Rick manteve toda a sujeira e ainda conseguiu dar definição a todos os instrumentos, coisa rara no gênero.

"Angel of Death" (com alusões ao infame carrasco nazista Joseph Mengele) e "Raining Blood" garantem uma fratura exposta na cervical de tanto sacudir a cabeça. "Necrophobic", "Jesus Saves" e "Criminally Insane" consagram o estilo slayeriano que causou tanto estrago.

As letras gritadas por Araya são típicas de adolescentes que querem chocar os avós e, ouvidas hoje em dia, podem parecer meio bobas. Mas isso não importa. O Slayer é um dos poucos que, até hoje, se mantêm irredutível na maneira de sonorizar o apocalipse, mandando às favas toda e qualquer concessão musical.

Reign in Blood prestou um serviço ao rock pesado ampliando seus limites até a periferia do inferno.

Texto escrito por Gastão Moreira e publicado na Bizz #169, de agosto de 1999

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