Review: Neil Young – Colorado (2019)



Neil não se juntava com a Crazy Horse desde 2012, quando lançou Psychedelic Pill, e já estávamos com saudades ... muitas saudades. Alguns dos melhores trabalhos de Young são com a banda que tem um som áspero, meio sujo, pesado, mas que pode soar delicado ainda assim.

Este Colorado é o seu trigésimo nono (!) disco de estúdio e, mesmo que Neil nunca tenha soado envelhecido ou cansado, traz o cantor e compositor revigorado e focado na barulheira. Explico: boa parte do disco, que é produzido pelo próprio Neil Young e por John Harlon, tem arranjos pesados e esporrentos com guitarras gritando no primeiro plano e fazendo tanto Neil quanto Nils Lofgren brilharem nos instrumentos. O baixo de Billy Talbot e bateria Ralph Molina completam as canções de forma não menos brilhante. “She Showed Me Love”, que remete jams matadoras de “Down by the River” ou “Cowgirl in the Sand”, ambas de Everybody Knows This is Nowhere (1969), é a prova cabal disso. A música passa fácil dos treze minutos e é a mais longa do disco.

As faixas intercalam-se entre momentos de puro peso e delicadeza instrumental.  Mas por quase todo o disco os temas soam amargos e tratados com raiva na voz de Neil. Aliás, aos 73 anos, a voz de Young parece não ter sofrido grandes ações do tempo e continua suave, mas incisiva ao cantar letras românticas, discorrer sobre as mudanças climáticas e denunciar o ódio que tomou conta das relações humanas nos últimos tempos. Neil Young não tem problemas em se posicionar e defender seus pontos de vista com a coragem que sempre demonstrou. Goste, concorde ou não: respeite, sempre.

O disco havia sido precedido por dois singles: “Milk Way” e “Rainbow of Collors” (esta a mais otimista do álbum e que conta com um belíssimo refrão cantado em coro por toda a Crazy Horse) e chega agora junto com um documentário que trata de sua composição e gravação, chamado Montaitop, mostrando a interação e integração entre Neil Young e a Crazy Horse mesmo com a substituição de peças importantes como o guitarrista Frank Sampedro, que decidiu se aposentar aos 70 anos idade e deu lugar a Nils Lofgren, que acompanhou Bruce Springsteen durante anos.

Pessoalmente, as minhas preferidas foram a terna balada “Eternity”, a extensa e barulhenta “She Showed Me Love”, a não menos barulhenta “Help Me Lose My Mind” e “Olden Days”, com sua linda melodia.

Pode-se dizer, sem medo nenhum de estar exagerando, que este Colorado é o melhor disco de Neil Young desde Silver and Gold (2000), o melhor com a Crazy Horse desde Ragged Glory (1990) e um dos melhores de toda a sua discografia.

Para colocar no repeat e ouvir sorrindo.

Por Ron Groo

Comentários

  1. Eu adorei as melodias e esse contraponto do peso da banda em união com a crítica ambiental. O único defeito (não tão grande assim) é na segunda faixa, achei longa demais, talvez poderia ter alguns minutinhos a menos (não perderia a qualidade), mas de qualquer forma tá valendo. Outra coisa interessante é que Neil, mesmo aos 73 anos, permanece inflamando valores que o mesmo sempre defendeu e que hoje muitas bandas de rock preferem não tocar, seja por falta de capacidade ou por escolher permanecer isenta politicamente falando e não perder público. E essa crítica seja social/ambiental ou política sempre fez parte do rock n roll como gênero e tem feito tanta falta nos dias atuais, talvez por isso seja tão bom ver esse cara de volta e bem. Tomara que tanto ele como as suas ideias durem o máximo de tempo possível, o rock n roll agradece!

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  2. Neil Young para de produzir. Para sorte de quem gosta de música de qualidade. Como Van Morrison, Bruce Sprinfield e Glenn Hughes; todo ano tem novidade.

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  3. Depois da audição de Neil Young & Crazy Horse– Colorado, fico com a impressão que Young colocou em prática sua frase 'Rust Never Sleeps', e aos 73 anos, junto com sua banda preferida, nos brinda com seu melhor disco desde 'Psychedellic Pill'. Depois de perder sua casa e pertences pelo fogo da Califórnia , e sua ex- esposa, Peggy, pelo câncer, Young juntou forças e talento e compôs 10 temas chamando os Crazy Horse para grava-los.
    Com seu som típico, rude e rascante Young nos fala sobre as mudanças climáticas, dos desacertos de governos ao não cuidar de políticas que visem a não poluição do planeta. Rock com com sentido político e com endereço certo.
    Com relação ao som, Colorado se assemelha a Psychedellic Pill, alternado rock rasgados com direito a jams, com baladas mais lentas ao estilo "Young". Apesar de não contar mais com Frank Sampredro, que ao 70 anos, resolveu se aposentar, Young chamou Nils Lofgren para as cordas. Lembrando que Lofgren não é um desconhecido para Young e a banda, já tendo tocado em "After Gold Rush", "Tonight's The Night" e "Live At Roxy". Com essa formação Young e a banda não deixam pedra sobre pedra e não deixam ouvintes indiferentes. Colorado pode não ser uma obra-prima definitiva, mas nos mostra que Young e os Crazy Horse estão em forma e no mundo atual é um disco essencial. Em tempo, Colorado concorre seriamente ao melhor lançamento de Rock do ano.

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