Detetive Cósmico: visual arrebatador, trama nem tanto (Jeff Lemire, Matt Kindt e David Rubín, 2025, QS Comics)

Em Detetive Cósmico, acompanhamos uma investigação nos moldes clássicos, mas com um toque absolutamente inusitado: o crime a ser desvendado é o assassinato de um deus. Escrita por Jeff Lemire e Matt Kindt, com arte de David Rubín, a HQ foi publicada originalmente pela Image Comics em 2023 e chega agora ao Brasil pela QS Comics, em edição com formato americano, capa dura, 192 páginas e material extra. A tradução é de Carol Pimentel.

O grande destaque de Detetive Cósmico é, sem dúvida, a arte de David Rubín (Black Hammer, Beowulf). Suas ilustrações são vibrantes, grandiosas e prestam uma clara homenagem ao estilo inconfundível de Jack Kirby, um dos mestres dos quadrinhos. À medida que a história avança para dimensões cósmicas, o impacto visual se intensifica: há um forte senso de escala, dinamismo e ousadia. Rubín também experimenta com a diagramação das páginas, alterna técnicas narrativas e, por vezes, adota um estilo mais cartunesco em certos personagens — criando um contraste interessante com o tom espacial e existencial da trama.

O roteiro de Lemire e Kindt começa bem, com um mistério instigante, mas acaba se perdendo ao longo do caminho. A escolha de manter certas questões em aberto é válida e pode funcionar bem, mas neste caso a falta de respostas deixa a sensação de que um pouco mais de clareza teria enriquecido a leitura. Como em outras obras de Lemire, há uma dose considerável de pretensão na trama — o que eleva as expectativas, mas, ao menos na minha leitura, não é plenamente correspondida no desfecho.

A edição da QS Comics mantém o padrão editorial de qualidade da editora. No entanto, o papel couchê poderia ter uma gramatura um pouco maior, o que valorizaria ainda mais a arte exuberante da obra.

Em termos visuais, Detetive Cósmico é arrebatador. Já o enredo, embora promissor, tropeça em sua própria ambição. Vale a experiência — e cada leitor que tire suas próprias conclusões.