Lançado em agosto de 1977, Live é o registro definitivo da energia crua e incendiária do Foghat. Captado durante a turnê do álbum Night Shift (1976), este disco ao vivo transformou a reputação da banda de coadjuvante do boogie rock em potência incontestável do circuito de arenas norte-americanas. Com apenas seis faixas em pouco mais de 38 minutos, o álbum é uma aula de como o rock ao vivo pode capturar a essência visceral de uma banda em seu auge.
O Foghat surgiu em Londres no início dos anos 1970, formado por ex-integrantes do Savoy Brown — o vocalista e guitarrista "Lonesome" Dave Peverett, o baterista Roger Earl e o baixista Tony Stevens. Com a adição do guitarrista Rod Price, criaram uma sonoridade baseada no blues britânico, mas moldada pelo apetite norte-americano por peso, groove e improvisação. Após alguns discos de estúdio com sucesso moderado, foi no palco que o grupo encontrou seu verdadeiro habitat.
Live veio em um momento em que o rock ao vivo era um gênero em si: álbuns como Frampton Comes Alive! (1976) e Kiss Alive! (1975) mostravam que o público queria sentir o suor dos shows mesmo dentro de casa. O disco do Foghat foi gravado durante apresentações em Rochester e Syracuse, Nova York, e lançado pela Bearsville Records com produção de Nick Jameson. Stevens já havia deixado a banda, e o baixo foi assumido por Craig MacGregor.
O disco começa com a explosiva “Fool for the City”, faixa-título do álbum de estúdio de 1975. É um abre-alas irresistível, com riffs diretos, refrão marcante e um groove que traduz bem o som da banda. Na sequência, “Home in My Hand” e “I Just Want to Make Love to You” (cover de Willie Dixon eternizada pela banda) são exemplos perfeitos do estilo Foghat: solos prolongados, a slide guitar de Rod Price em destaque, e uma pegada rítmica densa e hipnótica. O auge absoluto é a versão estendida de “Slow Ride”, com quase nove minutos. Se no estúdio a faixa já era um clássico, ao vivo ela se transforma em um ritual de celebração do boogie rock, com dinâmica crescente e solos incendiários. Essa música se transformou também um dos maiores hinos do classic rock.
Live é considerado o ponto alto da carreira do Foghat. Foi o álbum mais bem-sucedido comercialmente da banda, alcançando a 11ª posição na Billboard 200 e rendendo disco de platina nos Estados Unidos, com mais de 2 milhões de cópias vendidas no país. Mais que isso, solidificou o grupo como um nome importante da segunda linha do rock setentista — abaixo dos gigantes como Led Zeppelin ou Aerosmith, mas respeitado por sua integridade e performance.
Musicalmente, o disco é um exemplo puro da vertente mais suada do hard rock: aquela que mistura blues, boogie e uma urgência quase dançante. Foi influência para bandas que seguiram essa trilha, como o ZZ Top nos anos 1980 e nomes mais contemporâneos que resgataram esse espírito ao vivo, como o Gov’t Mule e o The Black Crowes.
Foghat Live não reinventa a roda — ele a mantém girando em alta velocidade, em chamas, e em direção ao horizonte mais barulhento possível. É o retrato fiel de uma banda feita para a estrada, capturada no momento exato em que a química, a energia e o público se fundem em algo maior. Um clássico absoluto dos discos ao vivo dos anos 1970, obrigatório para fãs do rock direto e sem frescura.
O álbum só havia sido lançado no Brasil em LP, no longínquo 1977. A primeira edição em CD viu a luz do dia apenas agora, em 2025, em uma versão remasterizada disponibilizada pela Warner, Wikimetal, Kanto do Artista e Oporto da Música.
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