A origem da música remonta a 1979, quando o cantor e compositor Robert Hazard, então um artista promissor da cena da Filadélfia, escreveu e gravou uma demo de “Girls Just Want to Have Fun”. Sua versão tinha um tom completamente diferente: a canção falava sobre mulheres do ponto de vista masculino, como personagens secundárias em uma narrativa dominada por desejos e expectativas dos homens. Ou seja, a letra original era tudo o que Cyndi Lauper não era.
Foi durante a produção de seu álbum de estreia, She’s So Unusual (1983), que Lauper ouviu a música pela primeira vez. Ela enxergou ali algo que poderia funcionar, mas com uma condição: a letra precisava ser ressignificada. E foi exatamente isso que ela fez. Cyndi reescreveu trechos fundamentais da composição, alterando completamente a perspectiva. Em vez de ser uma canção sobre mulheres, ela se tornou uma canção das mulheres – celebrando a autonomia feminina, o direito de ser quem se é, e de simplesmente se divertir sem pedir permissão.
O resultado foi avassalador. Lançada como o primeiro single do disco, “Girls Just Want to Have Fun” alcançou o segundo lugar na Billboard Hot 100, conquistou o topo das paradas em diversos países e se tornou um dos maiores hits dos anos 1980. O videoclipe, que trazia a própria mãe de Lauper e um elenco diverso de personagens, ganhou rotação pesada na MTV e se tornou uma peça-chave na consolidação da era dos videoclipes como ferramenta artística e comercial.
Mais do que um sucesso comercial, a música virou um símbolo cultural. Um hino para as mulheres, um marco na música pop e uma das faixas mais regravadas e referenciadas da história recente. Mesmo sem ser a autora original, Lauper imprimiu tanta autenticidade e identidade à canção que ela se tornou inseparável da sua imagem artística. Curiosamente, essa reinterpretação feita por Lauper acabou ofuscando completamente a versão original de Hazard, que permanece praticamente desconhecida. Mas, em um mundo musical repleto de versões genéricas e covers esquecíveis, “Girls Just Want to Have Fun” é um exemplo raro de como uma intérprete pode transformar uma canção em algo maior do que ela era originalmente.
Quatro décadas depois, o legado continua intacto. A música está presente em filmes, comerciais, manifestações feministas e playlists nostálgicas, sempre pulsando com a mesma energia vibrante de quando foi lançada.
No fim das contas, Robert Hazard pode ter escrito a primeira versão, mas foi Cyndi Lauper quem fez história.
Abaixo você pode ouvir as duas versões de “Girls Just Want to Have Fun”:
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