Poucas obras em quadrinhos capturam com tanta sensibilidade o peso das pequenas decisões da vida adulta quanto Solanin, de Inio Asano. Publicado originalmente no Japão em 2005 e lançado no Brasil pela editora L&PM primeiramente em dois volumes e depois em um volume único de 448 páginas, o mangá é um retrato intimista e profundamente humano sobre a juventude, os sonhos não realizados e a difícil transição para a vida adulta.
Solanin acompanha Meiko Inoue, uma jovem de 24 anos
que vive em Tóquio e trabalha em um escritório entediante. Ela mora com o
namorado Taneda, um ilustrador freelancer que divide seu tempo entre bicos e
ensaios com sua antiga banda da faculdade. Ambos estão presos em uma rotina
monótona, tentando entender quais serão seus próximos passos. Quando Meiko
decide largar o emprego e Taneda resolve dar uma última chance à sua música, o
casal embarca em uma tentativa desesperada de resgatar a paixão que um dia
sentiram pela vida. No entanto, a realidade se impõe de forma abrupta, e a
história toma um rumo inesperado que redefine o tom do mangá.
Os personagens de Asano são frágeis, contraditórios e
extremamente reais. Meiko é uma protagonista complexa — determinada em alguns
momentos, perdida em outros. Sua trajetória de dor, amadurecimento e
reconstrução é o coração emocional do mangá. Taneda, por sua vez, é o arquétipo
do artista sensível, dividido entre o pragmatismo da vida e a busca por
autenticidade. Seus amigos — Kato, Billy e Ai — também têm seus próprios
conflitos e incertezas, compondo um grupo de adultos em crise, tentando encontrar
algum sentido em um mundo que não oferece respostas fáceis. Asano escreve seus
personagens com empatia. Ele entende que crescer não é um processo linear, e
que o fracasso é, muitas vezes, inevitável — mas também transformador.
Solanin é um mangá sobre amadurecimento, luto,
esperança e renascimento. É sobre aceitar que os sonhos da juventude, por mais
belos que sejam, às vezes não se realizam — mas que isso não precisa significar
o fim. A vida, como a música, pode soar dissonante, mas ainda assim tocar
fundo.
Inio Asano criou uma obra universal, que dialoga com
qualquer pessoa que já se sentiu perdida, sem direção ou esmagada pelo peso do
cotidiano. Solanin não oferece respostas fáceis, mas acolhe com ternura
e honestidade. Um mangá que soa como uma música triste tocada no fim do dia — e
que você vai querer ouvir (ou ler) mais de uma vez.
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