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Solanin, de Inio Asano: a melancolia do cotidiano e o som da juventude perdida (2023, L&PM)


Poucas obras em quadrinhos capturam com tanta sensibilidade o peso das pequenas decisões da vida adulta quanto Solanin, de Inio Asano. Publicado originalmente no Japão em 2005 e lançado no Brasil pela editora L&PM primeiramente em dois volumes e depois em um volume único de 448 páginas, o mangá é um retrato intimista e profundamente humano sobre a juventude, os sonhos não realizados e a difícil transição para a vida adulta.

Solanin acompanha Meiko Inoue, uma jovem de 24 anos que vive em Tóquio e trabalha em um escritório entediante. Ela mora com o namorado Taneda, um ilustrador freelancer que divide seu tempo entre bicos e ensaios com sua antiga banda da faculdade. Ambos estão presos em uma rotina monótona, tentando entender quais serão seus próximos passos. Quando Meiko decide largar o emprego e Taneda resolve dar uma última chance à sua música, o casal embarca em uma tentativa desesperada de resgatar a paixão que um dia sentiram pela vida. No entanto, a realidade se impõe de forma abrupta, e a história toma um rumo inesperado que redefine o tom do mangá.

Os personagens de Asano são frágeis, contraditórios e extremamente reais. Meiko é uma protagonista complexa — determinada em alguns momentos, perdida em outros. Sua trajetória de dor, amadurecimento e reconstrução é o coração emocional do mangá. Taneda, por sua vez, é o arquétipo do artista sensível, dividido entre o pragmatismo da vida e a busca por autenticidade. Seus amigos — Kato, Billy e Ai — também têm seus próprios conflitos e incertezas, compondo um grupo de adultos em crise, tentando encontrar algum sentido em um mundo que não oferece respostas fáceis. Asano escreve seus personagens com empatia. Ele entende que crescer não é um processo linear, e que o fracasso é, muitas vezes, inevitável — mas também transformador.


A música é um elemento central em Solanin. A banda de Taneda, embora não tenha alcançado sucesso comercial, representa para ele — e para os amigos que também fizeram parte da formação — uma lembrança de liberdade, de possibilidades infinitas, de quem eles foram ou poderiam ter sido. A canção "Solanin", composta dentro da trama, carrega um simbolismo catártico: é um grito de luto, de recomeço e de aceitação. Em uma curiosa inversão entre ficção e realidade, a música foi de fato gravada pela banda asiática Asian Kung-Fu Generation, e usada na adaptação live-action do mangá. O resultado é poderoso: a canção sintetiza todo o sentimento de juventude em suspensão que permeia a obra.

Solanin é um mangá sobre amadurecimento, luto, esperança e renascimento. É sobre aceitar que os sonhos da juventude, por mais belos que sejam, às vezes não se realizam — mas que isso não precisa significar o fim. A vida, como a música, pode soar dissonante, mas ainda assim tocar fundo.

Inio Asano criou uma obra universal, que dialoga com qualquer pessoa que já se sentiu perdida, sem direção ou esmagada pelo peso do cotidiano. Solanin não oferece respostas fáceis, mas acolhe com ternura e honestidade. Um mangá que soa como uma música triste tocada no fim do dia — e que você vai querer ouvir (ou ler) mais de uma vez.

 


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