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St. Anger (2003): o álbum mais odiado (e necessário) do Metallica


St. Anger
é um dos álbuns mais controversos da carreira do Metallica — amado por poucos, odiado por muitos, mas impossível de ser ignorado. Lançado em 5 de junho de 2003, o disco marca um momento turbulento na história da banda e se tornou um ponto de inflexão tanto musical quanto emocional.

O início dos anos 2000 foi um período caótico para o Metallica. Jason Newsted deixou o grupo em 2001, citando conflitos internos e limitações criativas. James Hetfield entrou em reabilitação para tratar alcoolismo e outros problemas pessoais. A banda também enfrentava um desgaste público crescente após o polêmico embate com o Napster. Durante as gravações de St. Anger, os integrantes estavam literalmente em terapia, como registrado no documentário Some Kind of Monster. Para lidar com essa tensão, o Metallica contratou o produtor Bob Rock para gravar o baixo (já que a vaga de Newsted ainda estava em aberto) e mergulhou em um processo criativo cru, doloroso e pouco convencional.

St. Anger é um disco visceral. O Metallica abriu mão dos solos de guitarra, apostou em estruturas longas e repetitivas, afinou os instrumentos em tons mais graves e adotou uma produção suja e seca — com destaque (ou infâmia) para a caixa da bateria de Lars Ulrich, com um som metálico e estalado que virou piada recorrente entre os fãs. A ideia era capturar a raiva e frustração em estado bruto, quase sem polimento. O resultado é uma sonoridade que divide opiniões: para alguns, é corajosa; para outros, simplesmente mal executada.


"Frantic", a faixa de abertura, traz a urgência típica do thrash, com riffs angulosos e a icônica repetição da frase "My lifestyle determines my deathstyle". "St. Anger" se transformou no hino do disco. Gritada, catártica e carregada de tensão, representa o núcleo emocional do álbum. Longa e labiríntica, "Some Kind of Monster" reflete bem o caos criativo da época. A letra fala sobre lutar contra algo incontrolável — como a própria banda. E "The Unnamed Feeling" talvez seja a mais próxima de um momento introspectivo, com Hetfield cantando sobre ansiedade e perda de controle emocional.

St. Anger estreou em primeiro lugar nas paradas de vários países, mas a recepção crítica foi extremamente polarizada. Algumas resenhas elogiaram a honestidade crua e a tentativa de reinvenção, enquanto outras criticaram a produção, a ausência de solos e a repetição excessiva. Entre os fãs, o disco se tornou um símbolo de divisão. Muitos o consideram o ponto mais baixo da carreira do Metallica, já outros o enxergam como um registro sincero de dor e transformação.

Com o passar do tempo, St. Anger foi sendo reavaliado. Não por ser um clássico redescoberto, mas por representar um momento humano, falho e autêntico de uma das maiores bandas do planeta. É um documento de sobrevivência. Se o Metallica não tivesse feito esse disco, talvez não existisse mais como banda. Além disso, St. Anger abriu caminho para a renovação criativa vista em Death Magnetic (2008), onde a banda voltou a dialogar com o thrash clássico e recuperou parte de sua base de fãs.

St. Anger não é um disco fácil. É feio, pesado, repetitivo e por vezes desconfortável — mas essas qualidades refletem exatamente o que o Metallica vivia naquele momento. Para quem busca perfeição técnica, ele decepciona. Mas para quem enxerga a música como expressão emocional pura, é um capítulo importante da trajetória da banda.

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