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Texas Kid, My Bro: entre o cowboy e o trauma, a estreia poderosa da editora Poptopia nos quadrinhos (Igor Kordey e Darko Macan, 2025, Poptopia)


Texas Kid, My Bro é um faroeste único. Primeiro lançamento da Editora Poptopia, braço editorial do canal Poptopia, o quadrinho trilha um caminho singular ao unir faroeste, metalinguagem e realismo fantástico em uma história que proporciona um mergulho sombrio sobre a herança emocional entre pais e filhos — tudo embalado por uma estética crua, intensa e perturbadora do artista croata Igor Kordey.

Baseada em conto de Darko Macan, a história acompanha Radovan Brandt, quadrinista frustrado e emocionalmente à deriva, que cresceu sob a sombra do pai, Tomislav Brandt, criador de Texas Kid, um icônico herói de faroeste que marcou gerações nos quadrinhos. No aniversário de 50 anos do personagem, a linha entre a ficção e a realidade se rompe: o próprio Texas Kid surge diante de Radovan, em carne, osso e chapéu. Não como uma figura idealizada, mas como um símbolo das feridas que nunca cicatrizaram — tanto da vida familiar quanto da arte que os moldou. 

A narrativa se desenrola em ritmo fragmentado, com idas e vindas no tempo, delírios e lembranças entrelaçadas. Kordey transita com segurança entre cenas cotidianas e atmosferas quase lisérgicas, onde o preto e branco acentua a tensão e o peso dramático da história. É um quadrinho que exige atenção e entrega total do leitor — não há explicações mastigadas, nem espaço para conforto.

Texas Kid, My Bro lida com temas densos: o trauma intergeracional, a culpa, a tentativa de superar ou compreender o passado, e o papel ambíguo da ficção em nossas vidas. O personagem fictício criado por Tomislav não é apenas um cowboy — ele é uma projeção viva de tudo aquilo que os Brandt tentaram ignorar, enterrar ou reprimir. Sua presença força o confronto: entre pai e filho, entre passado e presente, entre o criador e sua criação.

O roteiro entrega cenas intensas, tanto em termos de ação tanto em relação a aspectos psicológicos, mostrando o quanto a relação entre Tomislav e sua família é problemática. Há momentos indigestos, abusos, violência e tudo mais que faz parte de um relacionamento tóxico, aqui adornados pela capa da ficção e pela presença física de um personagem de quadrinhos, porém isso não diminui o forte impacto da trama.

Texas Kid, My Bro não é uma leitura fácil — e nem quer ser. É provocativo, denso e emocionalmente exigente. Mas para quem busca algo diferente no universo dos quadrinhos, especialmente fãs de HQs autorais, europeias e com uma pegada existencial, este é um título obrigatório.

A edição da Poptopia vem em capa dura, com 228 páginas impressas em papel couchê. Há pequenos deslizes na revisão textual, mas que não comprometem a experiência de leitura. Um belo começo, e que venham mais lançamentos da editora.


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