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10 quadrinhos esgotados que precisam urgentemente ser republicados no Brasil


O mercado de quadrinhos brasileiro vive uma fase fértil em diversidade de títulos e editoras, mas isso não significa que tudo esteja ao alcance dos leitores. Pelo contrário: uma quantidade significativa de obras fundamentais segue fora de catálogo — muitas há anos, algumas há décadas —, o que compromete o acesso de novos leitores a marcos da nona arte e impede colecionadores de completar bibliotecas essenciais.

Abaixo estão 10 títulos que precisam ser republicados no Brasil com urgência. São obras que se tornaram referência em seus respectivos gêneros e estilos, e cuja ausência nas prateleiras representa uma lacuna importante no mercado editorial nacional.


A Saga do Tio Patinhas
, de Don Rosa

Publicada no Brasil pela Editora Abril em março de 2015 e depois reimpressa em julho de 2017, esta obra-prima dos quadrinhos Disney reúne os capítulos que narram a história definitiva do personagem mais icônico de Carl Barks. No entanto, sua republicação está atualmente bloqueada pela própria Disney, que vetou dois capítulos por considerá-los racialmente problemáticos por trazerem um personagem inspirado em estereótipos ofensivos. O próprio Don Rosa se manifestou publicamente contra a decisão da Disney, mas o veto inviabiliza a reedição integral da saga e transforma as versões anteriores em itens cada vez mais cobiçados por colecionadores.

O Relatório de Brodeck, de Manu Larcenet

Uma das HQs mais impactantes publicadas no Brasil nos últimos anos, este relato sombrio e visualmente poderoso aborda os horrores da guerra, a culpa e o julgamento coletivo em uma aldeia isolada. Lançada em dezembro de 2018 pela Pipoca & Nanquim, a obra teve sua tiragem esgotada rapidamente e nunca mais foi reimpressa. Uma nova edição é mais do que desejável: é necessária para garantir que novos leitores possam conhecer essa joia dos quadrinhos europeus.

LJA & Vingadores, de Kurt Busiek e George Pérez

A histórica reunião entre as maiores equipes da DC e da Marvel foi publicada por aqui em julho de 2006 pela Panini, tanto em capa dura quanto em brochura, e nunca mais voltou às prateleiras. Com roteiro afiado de Busiek e arte monumental de George Pérez, essa minissérie é uma verdadeira celebração dos super-heróis clássicos e um dos maiores encontros editoriais da história dos quadrinhos. O interesse por edições comemorativas e crossovers nostálgicos só cresceu com o tempo — uma nova edição definitiva, bem cuidada e acessível, seria um sucesso imediato.

Os Companheiros do Crepúsculo, de François Bourgeon

Lançada no Brasil pela Editora Nemo em julho de 2013, essa trilogia medieval é um marco da HQ europeia. A narrativa mescla rigor histórico, drama humano e arte detalhista para retratar uma jornada brutal de sobrevivência no fim da Idade Média. Trata-se de uma leitura envolvente e sofisticada, que permanece inédita para boa parte do público atual. Uma nova edição, de preferência em volume único reunindo os três capítulos da série, daria a essa obra o alcance que ela merece.

Coleção Moebius, da Editora Nemo

Entre 2011 e 2013, a Editora Nemo publicou oito volumes com clássicos do mestre francês Moebius: Arzach, A Garagem Hermética, O Homem é Bom?, O Homem do Ciguri, entre outros. Todos estão esgotados. A ausência dessas obras no mercado atual representa uma falha grave na oferta de quadrinhos de ficção científica no Brasil. Uma republicação em volumes mais robustos, reunindo duas ou três histórias por edição, seria uma forma prática e atrativa de reintroduzir esses títulos fundamentais.

Peter Pan, de Régis Loisel

Publicada originalmente em três volumes entre abril e outubro de 2013 pela Nemo, esta releitura sombria do clássico infantil é uma das HQs mais elogiadas dos anos 1990. A arte detalhada de Loisel e sua abordagem adulta, crua e emocional transformam Peter Pan em uma obra profunda e inesquecível. Recentemente, a Comix Zone lançou Em Busca do Pássaro do Tempo, outra parceria de Loisel com Serge Le Tendre, com ótima recepção por parte do público. Uma republicação de Peter Pan em volume único pela editora seria uma jogada certeira e muito celebrada pelos leitores brasileiros.

Mulher-Maravilha: Terra Morta, de Daniel Warren Johnson

Lançada no Brasil pela Panini em abril de 2021, esta graphic novel oferece uma das interpretações mais originais da Mulher-Maravilha nos quadrinhos recentes. Em um mundo devastado, Diana se ergue como a última esperança da humanidade, em uma história que mescla ação visceral e emoção genuína. A arte explosiva de Daniel Warren Johnson, hoje cada vez mais popular no Brasil graças a Murder Falcon e Powerbomb!, ambos publicados pela Devir, só reforça a urgência de uma nova edição nacional de Terra Morta.

Blacksad, de Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido

Aclamada internacionalmente, essa série noir protagonizada por animais antropomórficos combina enredos complexos, ambientação impecável e uma arte realista de tirar o fôlego. No Brasil, os cinco primeiros álbuns foram lançados individualmente pela SESI-SP entre 2017 e 2018, com uma edição integral publicada em março de 2022 reunindo todas as histórias. Desde então, novos volumes foram lançados na Europa, mas seguem inéditos por aqui. A Pipoca & Nanquim já resgatou outros títulos da SESI-SP, como Verões Felizes, o que faz de Blacksad uma excelente candidata a um relançamento à altura de sua fama.

Black Hammer, de Jeff Lemire

Uma das maiores sagas de super-heróis autorais dos últimos anos, Black Hammer já conta com mais de 20 encadernados nos EUA. No Brasil, apenas quatro foram publicados pela Editora Intrínseca, entre 2019 e 2020. Com o encerramento da linha de quadrinhos da editora, a série foi abandonada no Brasil, frustrando os leitores e deixando uma das mais interessantes mitologias contemporâneas incompleta por aqui. Uma nova editora que assumisse o universo de Lemire teria em mãos um material rico, já consolidado lá fora e com alto potencial por aqui.

A Trilogia Nikopol, de Enki Bilal

Publicada pela Editora Nemo em volume único em 2012, esta trilogia reúne as histórias A Feira dos Imortais, A Mulher Armadilha e Frio Equador, clássicos da ficção científica europeia. Com sua mistura de surrealismo político, cyberpunk e crítica social, Enki Bilal criou um universo tão enigmático quanto visualmente impactante. Sua ausência das prateleiras brasileiras é injustificável. Em tempos de redescoberta da ficção especulativa, a volta da trilogia seria mais do que bem-vinda.


Essas obras esgotadas representam muito mais do que simples lacunas nas estantes dos colecionadores: são peças fundamentais da história dos quadrinhos que merecem estar permanentemente acessíveis ao público brasileiro. Seja por sua relevância artística, impacto cultural ou influência sobre gerações de autores e leitores, cada um desses títulos carrega um peso que justifica (e exige) sua republicação. 

Enquanto novas edições não chegam, seguimos esperando, e torcendo para que editoras enxerguem nessas ausências não só uma demanda real, mas uma oportunidade de valorizar o que há de melhor na nona arte.

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