Todo fã de rock e metal conhece pelo menos um deles. São os chamados “álbuns alecrim dourado”: obras-primas aclamadas universalmente como o auge criativo de uma banda. Discos que não apenas conquistaram crítica e público, mas também assumiram o papel de definidores da identidade de seus criadores, tornando-se, para muitos, o único ponto de referência em discografias cheias de nuances.
Pense em Rust in Peace, do Megadeth. Painkiller, do Judas Priest. The Number of the Beast, do Iron Maiden. Master of Puppets, do Metallica. Appetite for Destruction, do Guns N’ Roses. Keeper of the Seven Keys I & II, do Helloween. Esses álbuns são, sem dúvida, marcos absolutos — técnicos, intensos, influentes. Mas o culto em torno deles acaba gerando um efeito colateral: obscurece o restante da produção das bandas, muitas vezes igualmente relevante.
Quantos fãs realmente se debruçam sobre discos como Youthanasia ou Cryptic Writings, do Megadeth, em vez de revisitarem sempre Rust in Peace? Ou Sad Wings of Destiny e Turbo, que mostram outras faces do Judas Priest? Ou álbuns subestimados como Somewhere in Time e A Matter of Life and Death, do Iron Maiden, que desafiam o ouvinte com novas propostas?
O mesmo vale para Aqualung, do Jethro Tull, que parece ter reduzido uma carreira riquíssima a uma única referência. Ou para Reign in Blood, do Slayer, que virou sinônimo da banda ao ponto de ofuscar joias como South of Heaven e Seasons in the Abyss. Já Images and Words, do Dream Theater, é tão venerado que até divide os próprios fãs da banda: há quem veja nele a perfeição inalcançável, e há quem o trate como prisão estética.
A idolatria ao “álbum definitivo” também atinge ícones como o Queen, com A Night at the Opera; o Led Zeppelin, com Led IV; o Deep Purple, com Machine Head; e o AC/DC, com Back in Black. Todos excelentes, mas que muitas vezes colocam sombras sobre capítulos igualmente criativos das respectivas bandas.
Claro, esses discos não chegaram a esse patamar à toa. Eles representam momentos de convergência rara entre inspiração, contexto e execução. Mas o problema surge quando essa aclamação vira regra, impedindo os fãs de explorarem os lados B da trajetória das bandas, onde muitas vezes residem surpresas e experimentações que revelam outras camadas dos artistas.
Ouvir apenas os “alecrins dourados” é como visitar uma cidade e nunca sair da rua principal. A beleza está ali, sim, mas há muito mais para descobrir além do óbvio. E quando se trata de música, sair do roteiro consagrado pode ser justamente o que mantém viva a paixão.
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