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Asterix Omnibus 1, de René Goscinny e Albert Uderzo (2024, Editora Record)


Publicado pela Editora Record, Asterix Omnibus 1 marca o início de uma empreitada ambiciosa: reunir em ordem cronológica todas as aventuras do pequeno gaulês criado por René Goscinny (roteiro) e Albert Uderzo (arte), dois dos maiores nomes da história dos quadrinhos. Este primeiro volume traz as três histórias que deram início ao fenômeno mundial que é Asterix: Asterix, o Gaulês (1961), A Foice de Ouro (1962) e Asterix e os Godos (1963), em uma bela edição com 152 páginas, capa dura e papel couchê de ótima gramatura.

Poucos personagens alcançaram o sucesso e a longevidade de Asterix. Traduzido para mais de 100 idiomas e com vendas superiores a 400 milhões de exemplares em todo o mundo, Asterix é um verdadeiro símbolo da cultura europeia dos quadrinhos e um dos pilares da chamada banda desenhada franco-belga. Misturando humor, sátira histórica e aventuras bem construídas, os álbuns do gaulês e de seu inseparável amigo Obelix encantam leitores de todas as idades há mais de seis décadas – a série segue tendo álbuns inéditos lançados praticamente todos os anos, importante frisar.

O omnibus começa com Asterix, o Gaulês, história inaugural que apresenta os personagens centrais da série: Asterix, Obelix, o druida Panoramix, o chefe Abracurcix e os incansáveis romanos. Ainda que Uderzo estivesse encontrando seu estilo e que Goscinny ainda não tivesse refinado completamente o tom da série, o embrião do sucesso já estava ali — o humor leve, o jogo com estereótipos históricos e a resistência simbólica de um pequeno povo contra o Império Romano. Na sequência, A Foice de Ouro amplia o universo da série ao tirar os personagens da aldeia e levá-los até Lutécia (a futura Paris). A história também apresenta personagens novos e desenvolve a ideia das viagens como parte fundamental das tramas de Asterix. Por fim, Asterix e os Godos refina ainda mais o estilo da dupla Goscinny e Uderzo, com sátiras mais afiadas — no caso, aos alemães (os godos) e à burocracia militar. É nesta história que a fórmula clássica da série começa a se consolidar de forma mais clara, com ritmo mais ágil, piadas melhor elaboradas e um maior domínio da narrativa visual.


Visualmente, Asterix Omnibus 1 é uma bela publicação. A capa dura, o excelente acabamento gráfico e o uso do papel couchê demonstram o cuidado da Record com a apresentação do material. A inclusão de pequenas biografias dos autores no final é válida, mas falta uma introdução mais robusta, contextualizando a importância de Asterix na história dos quadrinhos e sua relevância cultural — algo essencial para leitores novos e também para os antigos fãs que buscam uma reedição à altura do legado da série. Outro ponto negativo, infelizmente, são os erros de revisão presentes na edição, inclusive na biografia de um dos autores. Em um volume que se propõe a ser definitivo e colecionável, esse tipo de deslize não é admissível e prejudica a experiência de leitura. Espera-se que nas próximas edições a editora seja mais cuidadosa nesse aspecto.

Apesar das críticas, a iniciativa da Record merece reconhecimento. Publicar os álbuns de Asterix em ordem cronológica, em volumes caprichados e acessíveis ao público brasileiro, é uma decisão editorial importante e bem-vinda. Este primeiro volume é apenas o começo de uma jornada que, se mantiver regularidade e corrigir os deslizes apontados, tem tudo para se tornar a edição definitiva de Asterix no Brasil. Como a série possui 40 álbuns, a coleção deve ter aproximadamente 14 volumes.

Para fãs antigos e novos leitores, é uma excelente oportunidade de (re)descobrir um dos maiores personagens da história das HQs — um pequeno gaulês que, com inteligência, coragem e bom humor, conquistou o mundo.

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