Lançado em 4 de novembro de 1977, Rocket to Russia é um manifesto sonoro que resume perfeitamente tudo o que fez (e ainda faz) dos Ramones um dos pilares do punk rock. Com apenas trinta minutos de duração e uma sequência de faixas impecável, o disco oferece um dos tracklists mais equilibrados de toda a discografia do grupo, funcionando como um cartão de visita definitivo para quem nunca teve contato com a banda — se é que esse alguém existe.
Gravado em plena explosão punk de 1977, Rocket to Russia surge em um momento-chave. O movimento já havia eclodido no Reino Unido com Sex Pistols, The Clash e companhia, mas nos Estados Unidos os Ramones continuavam sendo os arautos de um som que misturava a velocidade crua do rock de garagem dos anos 1960 com a energia juvenil do bubblegum pop. A produção, a cargo de Tony Bongiovi e Tommy Ramone, é mais polida do que nos discos anteriores, sem perder a urgência e o espírito direto que definem o grupo.
O repertório é simplesmente matador. De cara, “Cretin Hop”, “Rockaway Beach” e “Here Today, Gone Tomorrow” deixam claro que o trio nova-iorquino havia atingido o auge da sua forma criativa. “Sheena Is a Punk Rocker” é um hino que sintetiza o espírito libertário do punk com a doçura de um refrão pop perfeito. Já “We’re a Happy Family”, carregada de sarcasmo e distorção, mostra o lado mais ácido e subversivo da banda. “Teenage Lobotomy” é outro destaque incontestável e segue como presença garantida em qualquer lista de grandes momentos da banda.
Mas Rocket to Russia também guarda tesouros menos falados, como a irônica e minimalista “I Don’t Care”, puro desprezo punk em pouco mais de um minuto, e a deliciosa “Ramona”, quase uma balada torta, com refrão cativante e clima melancólico que antecipa o lirismo que bandas alternativas abraçariam anos depois. Dois covers merecem destaque especial: “Do You Wanna Dance?” (originalmente de Bobby Freeman) e “Surfin’ Bird” (clássico do The Trashmen). Nas mãos dos Ramones, ambas deixam de ser homenagens para se tornarem faixas essencialmente novas — versões tão enérgicas, irreverentes e características que soam como criações próprias. É a capacidade da banda de reinventar o passado e moldá-lo ao seu estilo que faz de Rocket to Russia um documento tão poderoso.
O impacto desse disco na cena punk é imensurável. Ele ajudou a consolidar o som dos Ramones como referência incontornável, influenciando desde bandas hardcore dos anos 1980 até grupos alternativos dos anos 1990 e além. Rocket to Russia é um clássico absoluto, um dos maiores álbuns da história do punk rock e uma das obras mais importantes do gênero. É barulhento, melódico, rebelde e irresistivelmente divertido — tudo ao mesmo tempo.
Se você quer entender o que fez dos Ramones uma banda tão influente, comece por Rocket to Russia. É punk em sua forma mais pura: simples, direto e inesquecível.
O álbum estava fora de catálogo no Brasil desde 2017, e retornou em uma edição expandida em CD slipcase lançada pela Wikimetal, que inclui cinco faixas extras, entre elas a versão inicial de “Needles & Pins”, conhecida principalmente pela versão do The Searches, e que só entraria no álbum seguinte, Road to Ruin (1978).
Comentários
Postar um comentário
Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.