Slayer em South of Heaven (1988): e se o inferno tivesse um ritmo mais lento e ainda mais ameaçador?
Lançado em 5 de julho de 1988, South of Heaven chegou ao mundo com uma tarefa ingrata: suceder Reign in Blood (1986), o álbum que redefiniu os limites do thrash metal com velocidade, brutalidade e precisão cirúrgica. Mas, em vez de repetir a fórmula, o Slayer optou por algo mais ousado: desacelerar, injetar mais atmosfera e explorar o lado mais sombrio da própria fúria. O resultado foi um disco que dividiu opiniões à época, mas que, com o passar dos anos, se consolidou como um dos capítulos mais importantes da história da banda — e talvez o que melhor envelheceu em toda a discografia do grupo.
Produzido novamente por Rick Rubin e lançado pela Def Jam, South of Heaven representou uma guinada criativa. A urgência apocalíptica de Reign in Blood deu lugar a composições mais cadenciadas, com riffs arrastados, melodias sinistras e uma sensação constante de mal-estar pairando sobre cada faixa. A mudança não foi acidental: Tom Araya, Kerry King, Jeff Hanneman e Dave Lombardo sabiam que não poderiam — e nem deveriam — tentar superar o que já era insuperável. Em vez disso, abriram um novo caminho.
Músicas como a faixa-título, com seu riff inicial assombrado, e “Mandatory Suicide”, com seu refrão memorável e peso opressor, tornaram-se hinos de uma nova fase do Slayer — tão intensa quanto a anterior, mas com outra abordagem. “Ghosts of War” e “Live Undead” mantêm as raízes thrash da banda, enquanto a surpreendente releitura de “Dissident Aggressor”, do Judas Priest, revela algumas das influências que ajudaram a moldar esse disco tão singular.
South of Heaven é o elo entre a selvageria de Reign in Blood e o peso denso de Seasons in the Abyss (1990), formando uma trilogia essencial do metal extremo dos anos 1980. Se o álbum anterior era um ataque frontal, este é um cerco psicológico, uma descida lenta e inevitável rumo à escuridão.
Com o passar do tempo, o que inicialmente causou estranhamento se transformou em reverência. South of Heaven passou a ser reconhecido por sua coragem estética, coesão sonora e visão artística. É um álbum que exige mais de quem ouve, mas entrega recompensas proporcionais: a tensão constante, o clima opressivo e o senso de ameaça iminente ainda são tão eficazes quanto em 1988.
Uma obra-prima que prova que velocidade não é tudo, e que, às vezes, o verdadeiro terror caminha devagar.
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