Até que ponto um disco pode ser barulhento, intenso e cheio de identidade — e ainda assim parecer perdido? 3, lançado pelo Soulfly em 25 de junho de 2002, é um desses casos em que a energia bruta não se converte necessariamente em coesão artística. Com uma sonoridade que mistura nu metal, groove, influências tribais, percussões latinas e até momentos mais espirituais, o terceiro álbum da banda liderada por Max Cavalera parece atirar para todos os lados — e, no fim, acerta em poucos.
Vindo de dois álbuns com recepção positiva (Soulfly em 1998 e Primitive em 2000), Max buscava reafirmar a identidade de sua nova banda após a saída conturbada do Sepultura. Mas em 3, o que se ouve é mais um esforço para manter a chama acesa do que uma evolução real. O disco conta com boas faixas, como a pesadíssima "Seek 'n' Strike", a empolgante "Downstroy" e a tribal "One", que mostram o potencial da fusão entre peso e elementos étnicos que Max sempre explorou. Porém, momentos como "Brasil", que tenta evocar um sentimento patriótico com versos exagerados e arranjos quase caricatos, soam deslocados e desconexos.
A produção de 3 é crua e direta, o que dá ao disco uma certa urgência, mas também evidencia suas falhas: algumas músicas parecem esboços mal acabados, e o conjunto geral carece de foco. Há passagens meditativas, interlúdios acústicos e vocais guturais num mesmo fluxo, sem que exista uma costura eficaz entre eles.
Comparado com o que o Sepultura fazia na mesma época — o experimental Nation (2001) e o mais coeso Roorback (2003) —, 3 parece um disco menos ambicioso, mas também menos consistente. Enquanto o Sepultura buscava novos caminhos com uma formação renovada e tentava modernizar seu som, o Soulfly se perdia em meio a batidas tribais, letras genéricas e ideias repetitivas.
Dentro da discografia do Soulfly, 3 é um trabalho irregular, inferior a álbuns mais fortes como Prophecy (2004), Dark Ages (2005), Conquer (2008) e o brutal Enslaved (2012), que mostrariam uma banda mais centrada e criativa nos anos seguintes. Ainda assim, o disco tem valor histórico por representar uma transição e manter a base de fãs engajada.
3 é, no fim das contas, um disco que fala mais com os fãs mais fiéis de Max Cavalera, aqueles que acompanham sua jornada desde os tempos de Chaos A.D. e Roots. Para quem busca um Soulfly em sua melhor forma, há opções muito mais impactantes na discografia da banda.
O CD havia tido apenas uma edição brasileira, em 2002, e retorna agora em uma versão com embalagem slipcase pelas mãos da Warner, Wikimetal, Kanto do Artista e Oporto da Música.
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