Saints & Sinners (1982) marca um ponto de transição decisivo na trajetória do Whitesnake. Lançado em novembro de 1982, é o último álbum a representar de forma integral a sonoridade mais blueseira e hard rock setentista da banda, ao mesmo tempo em que apresenta lampejos do som mais polido e radiofônico que David Coverdale exploraria com sucesso estrondoso nos anos seguintes.
Musicalmente, Saints & Sinners ainda é profundamente enraizado no blues rock britânico e no hard setentista, com forte presença das influências do Deep Purple e do Free, além de toques do soul que sempre encantaram Coverdale. Mas, em faixas pontuais, já se percebem elementos mais acessíveis e ganchudos, indício claro da guinada que o vocalista faria rumo ao hard/glam metal nos anos seguintes, especialmente com o Slide It In (1984) e o autointitulado Whitesnake (1987).
Dois grandes momentos se destacam por razões distintas. “Crying in the Rain”, uma das melhores composições de Coverdale, mescla peso e emoção com um riff marcante e clima sombrio. A canção seria regravada com mais agressividade no álbum Whitesnake (1987), mas a versão original é mais crua e blueseira — e, para muitos, mais impactante. Já “Here I Go Again”, um dos maiores clássicos do Whitesnake, foi originalmente lançada aqui em uma versão mais introspectiva, com forte presença de Hammond e backing vocals soul. Seria transformada em hino pop-metal anos depois, mas essa primeira encarnação preserva a melancolia e a densidade emocional da letra, escrita após o divórcio de Coverdale. Outras faixas merecem menção, como “Young Blood”, com sua pegada acelerada e contagiante, e a faixa-título “Saints & Sinners”, um bom exemplo do groove característico da banda nessa fase.
Saints & Sinners é frequentemente ofuscado pelo sucesso posterior do Whitesnake na era MTV, mas tem importância crucial na discografia da banda. Representa o fim da primeira fase do grupo — mais próxima das raízes do blues e do rock clássico britânico — e aponta o caminho para o som bombástico e orientado ao mercado americano que Coverdale abraçaria pouco tempo depois. Além disso, foi a semente de dois dos maiores sucessos da banda, “Here I Go Again” e “Crying in the Rain”, ambos ressuscitados com enorme êxito nos anos 1980.
Este é um álbum que atua como ponte entre o passado roqueiro e o futuro glamouroso do Whitesnake — uma fase menos celebrada, mas essencial para entender a evolução artística de David Coverdale e seus comparsas.
Segundo o Discogs, Saints & Sinners estava fora de catálogo em CD no Brasil desde 1997. A nova edição lançada pela Warner, Wikimetal, Kanto do Artista e Oporto da Música vem em slipcase, traz um longo encarte com a história do disco e as letras, além de som remasterizado e três músicas bônus.
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