Quando o Metallica lançou ... And Justice for All em 25 de agosto de 1988, o peso da expectativa era gigantesco. A banda havia perdido Cliff Burton dois anos antes, em um acidente de ônibus devastador durante a turnê europeia, e agora estreava Jason Newsted no baixo – o músico havia sido apresentado no EP de covers Garage Days Re-Revisited (1987). Era também o primeiro álbum depois de Master of Puppets (1986), obra-prima que colocou o grupo como o nome mais importante do thrash metal mundial.
O que o quarteto entregou foi um disco ambicioso, denso e quase claustrofóbico. ... And Justice for All é o Metallica levando sua música ao limite estrutural: riffs labirínticos, músicas longas, mudanças bruscas de andamento e uma produção seca, que privilegia a frieza técnica em vez da visceralidade. A ausência quase total do baixo de Newsted no mix virou lenda — e até hoje divide opiniões —, mas acaba reforçando a sensação de austeridade que marca o álbum.
As influências estão claras: o thrash técnico que vinha sendo lapidado por bandas como Voivod somado à busca do Metallica por algo maior do que apenas velocidade e agressividade. O resultado são composições que parecem verdadeiros manifestos musicais. “Blackened” abre o disco em ritmo avassalador, carregando uma das introduções mais emblemáticas da carreira do grupo. A faixa-título é uma maratona de quase dez minutos, com riffs que se sobrepõem como peças de um quebra-cabeça. “Eye of the Beholder” e “Harvester of Sorrow” mostram a capacidade da banda em misturar peso e crítica social, enquanto “The Frayed Ends of Sanity” é um épico que nunca deixou de ser cultuado pelos fãs.
Mas é impossível falar de ... And Justice for All sem destacar “One”. Com seu início sombrio e melódico, a explosão brutal na segunda metade e a temática sobre um soldado mutilado e preso em seu próprio corpo, a canção se tornou um hino do Metallica e rendeu à banda seu primeiro videoclipe — algo que, até então, eles juravam nunca fazer.
Se por um lado a produção continua sendo alvo de críticas, por outro a ousadia e a complexidade de ... And Justice for All consolidaram o Metallica como o gigante absoluto do metal nos anos 1980. Foi o disco que levou a banda ao topo das paradas, abriu as portas da mídia mainstream e pavimentou o caminho para o sucesso colossal do Black Album em 1991.
Mais de três décadas depois, ... And Justice for All continua sendo um trabalho fascinante: árido, cerebral e desafiador, mas também essencial para entender não apenas a trajetória do Metallica, como a própria evolução do heavy metal.
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