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Entre o hard, o pop e a escuridão: o Black Sabbath mais experimental de Technical Ecstasy (1976)


Em 1976, o Black Sabbath já não era mais a mesma banda que havia definido o heavy metal no início da década. Depois de uma sequência impecável de discos – de Black Sabbath (1970) a Sabotage (1975) –, o grupo se encontrava esgotado, tanto física quanto criativamente. As drogas consumiam cada vez mais os integrantes, a pressão da gravadora exigia novidades e, em meio a tudo isso, a cena musical passava por transformações: o rock progressivo dominava as arenas, o funk e a soul music ganhavam espaço, e o punk começava a nascer nas ruas da Inglaterra. É nesse turbilhão que surge Technical Ecstasy, um disco muitas vezes mal compreendido dentro da discografia da banda.

Gravado em Miami, o álbum mostra o Black Sabbath tentando expandir horizontes. Tony Iommi buscava novas sonoridades, adicionando teclados, arranjos mais sofisticados e flertes com o hard rock e até com o pop. Bill Ward e Geezer Butler sustentam a base com competência, mas é perceptível que a espontaneidade dos primeiros anos havia se diluído. A produção, mais polida e menos sombria, também contrasta com a crueza dos trabalhos anteriores.

Entre os destaques, “Back Street Kids” abre o álbum com energia e é quase um hard rock clássico, enquanto “You Won’t Change Me” resgata a atmosfera soturna, guiada por teclados melancólicos que reforçam a dramaticidade da voz de Ozzy Osbourne. “All Moving Parts (Stand Still)” traz groove e uma levada quase funkada, enquanto “Gypsy” tem pegada de arena rock. O maior ponto de discórdia, porém, é “It’s Alright”, cantada por Bill Ward. Para alguns fãs, uma curiosidade charmosa; para outros, um deslize pop que destoa do catálogo. Já “Dirty Women”, que encerra o álbum, é uma das joias esquecidas da banda: riffs épicos, clima sombrio e performance visceral de Ozzy, tornando-se um clássico nos anos posteriores.


Na época, Technical Ecstasy recebeu críticas mistas. Muitos sentiram que o Black Sabbath havia perdido o fio da meada, enquanto outros viram no disco uma tentativa válida de evolução. O fato é que, embora não esteja no mesmo patamar dos álbuns clássicos, ele registra a inquietação de um grupo que não queria se repetir. O impacto imediato foi modesto, mas a longo prazo o álbum ganhou uma aura cult, especialmente por mostrar um Sabbath mais experimental e vulnerável.

O álbum não é um favorito dos fãs nem um marco na carreira do quarteto, mas guarda momentos inspirados e revela uma banda à beira da ruptura criativa que resultaria, poucos anos depois, na saída de Ozzy. Hoje, o disco é lembrado como peça importante para entender a transição da década de 1970 para a de 1980, quando o Black Sabbath teria que se reinventar para sobreviver.

Technical Ecstasy mostra que até gigantes tropeçam, mas esses tropeços também contam histórias – e às vezes revelam facetas surpreendentes de bandas que ajudaram a moldar a música pesada.

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