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Menina Infinito: o retrato indie da juventude nos quadrinhos brasileiros (2008, Desiderata)


Publicado em 2008 pela Desiderata, Menina Infinito marcou a estreia de Fábio Lyra em um formato mais longo, depois de experiências em fanzines e coletâneas independentes. O álbum apresenta Mônica e seu grupo de amigos, jovens que atravessam a rotina de shows, mixtapes, blogs e pequenos dramas cotidianos. À primeira vista, é uma HQ sobre juventude, mas, à medida que as páginas avançam, o que se revela é um retrato afetivo e melancólico de uma geração que cresceu à sombra da cultura pop e da cena indie dos anos 2000.

O desenho de Lyra é limpo, direto e eficiente — sua economia de linhas transmite intimidade e aproxima o leitor dos personagens. Essa escolha estética torna os dilemas de Mônica mais palpáveis, intensificando a identificação com figuras que poderiam facilmente ser nossos amigos de faculdade ou conhecidos de shows em porões alternativos.

A força de Menina Infinito está justamente no modo como captura esse recorte cultural, repleto de referências musicais e da efervescência digital pré-redes sociais massivas. Há, no livro, a sensação de que a vida se constrói tanto em diálogos quanto em playlists, em olhares tanto quanto em posts de fotolog.


A comparação mais precisa talvez seja imaginar a fusão entre o traço de Daniel Clowes — conhecido por retratar tipos urbanos comuns com um olhar irônico e sensível — e os temas explorados por Nick Hornby, em livros como Alta Fidelidade ou Febre de Bola, que se valem da cultura pop como espelho da vida emocional. Assim como esses autores, Lyra enxerga na música, no consumo cultural e nas relações frágeis da juventude o material para uma narrativa que fala de amadurecimento e identidade.

Não à toa, a obra recebeu elogios da crítica e conquistou prêmios, sendo lembrada como um dos melhores lançamentos nacionais de 2008. Menina Infinito permanece relevante não apenas como registro de uma época, mas também como exemplo do potencial dos quadrinhos brasileiros em traduzir experiências universais com sotaque próprio. É leitura indicada para quem busca HQs autorais que mesclam cotidiano, sensibilidade e cultura pop em um retrato honesto de crescer e se perder — e talvez se encontrar — ao longo do caminho.


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