Em 1970, o Black Sabbath já tinha mudado o jogo com o álbum de estreia. Sete meses depois, a banda voltou com Paranoid, um disco que não apenas consolidou o heavy metal como estilo, mas também redefiniu os limites do rock pesado. Gravado em apenas alguns dias em dois estúdios de Londres, o álbum é fruto de urgência criativa, energia crua e um entrosamento quase telepático entre os quatro integrantes.
A Inglaterra do fim dos anos 1960 ainda lidava com os ecos da guerra, enquanto a juventude hippie via seus sonhos desmoronarem diante de uma realidade mais dura. O Black Sabbath absorveu esse clima sombrio e o traduziu em riffs pesados, letras sobre alienação, insanidade, paranoia e destruição. A influência do blues ainda é perceptível, mas aqui ele aparece distorcido, acelerado e mais agressivo.
Paranoid abre com “War Pigs”, um manifesto contra a guerra do Vietnã e a manipulação política, onde Tony Iommi cria um dos riffs mais emblemáticos da história. A faixa-título, escrita às pressas para completar o disco, acabou se tornando o maior sucesso da banda, com sua levada rápida e pegajosa. “Iron Man”, com a introdução falada e o riff arrastado, virou um dos hinos definitivos do metal, enquanto “Electric Funeral” mergulha em imagens apocalípticas que só aumentam a densidade do álbum.
Outros momentos não ficam para trás: “Hand of Doom” denuncia os efeitos devastadores da heroína em soldados que retornavam do Vietnã, “Fairies Wear Boots” mistura crítica social e delírio lisérgico, e “Planet Caravan” surge como contraponto etéreo, um interlúdio psicodélico que mostra a amplitude criativa do grupo.
O impacto foi imediato. Paranoid chegou ao topo das paradas britânicas e se tornou a porta de entrada do heavy metal para milhões de ouvintes. Mais do que um sucesso comercial, o disco moldou a estética, a sonoridade e a atitude de todo um gênero. Décadas depois, segue sendo uma bíblia para músicos e fãs, citado como influência por todos – do thrash ao doom, do grunge ao stoner.
A força de Paranoid é imensurável. É o álbum que transformou o Black Sabbath em mito e colocou os pilares do metal no mapa. Ainda hoje soa urgente, poderoso e relevante, como se tivesse acabado de ser lançado. Uma obra-prima absoluta, feita por quatro garotos de Birmingham que mudaram a música para sempre.
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