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The Black Keys florescem após a tempestade em No Rain No Flowers (2025)


O The Black Keys sempre foi um caso curioso no rock contemporâneo. A dupla formada por Dan Auerbach e Patrick Carney surgiu no início dos anos 2000 mergulhando fundo no blues cru, garageiro e sem firulas, conquistando espaço pela energia direta e pelo senso de autenticidade. Com o tempo, a sonoridade foi se abrindo: chegaram os arranjos mais ricos de Brothers (2010), a explosão comercial de El Camino (2011) e experimentações que flertaram com o pop e a psicodelia em Turn Blue (2014). O caminho da banda, desde então, oscilou entre revisitar suas raízes e tentar algo novo, quase sempre com resultados interessantes.

No Rain No Flowers, lançado em 2025, dá sequência a esse movimento de olhar para frente sem esquecer de onde vieram. O título já sugere uma reflexão: sem a dor e a luta, não há beleza. E é exatamente essa dualidade que permeia o álbum. Depois de um 2024 conturbado — cancelamento de turnê nos EUA, problemas de gestão e o desempenho abaixo do esperado de Ohio Players (2024) — o disco soa como um recomeço, um registro de resiliência que transforma turbulência em criação.


O álbum expande o leque habitual da banda. O blues e o rock garageiro ainda estão presentes como DNA, mas agora envoltos em uma aura psicodélica e soul dos anos 1960 que confere unidade e leveza às faixas. O single “The Night Before” é exemplar: fala de uma ressaca devastadora, mas embalada por um groove festivo, quase celebratório. Já “Down to Nothing” revisita o fundo do poço, mas o faz sobre camadas de órgão retrô, percussão ácida e pulsação gospel. “A Little Too High” mistura country e psicodelia enquanto reflete sobre as rachaduras de um relacionamento, mas soa como se tivesse escapado diretamente do verão de 1968.

Outros momentos de destaque incluem “On Repeat”, que transforma a obsessão em mantra psicodélico; “Babygirl”, um soul com pegada Motown irresistível; e “Make You Mine”, coescrita com Desmond Child, que vem carregada de cordas e falsetes à Sam Cooke. Há ainda “Man on a Mission”, com seu ar de caçada noturna em Los Angeles, e “All My Life”, cuja batida disco reforça o espírito sobrevivente do álbum com versos que reconhecem as derrotas, mas também a necessidade de seguir em frente.

No Rain No Flowers é, acima de tudo, um disco de superação. Ele não busca recriar os momentos mais crus ou explosivos da carreira do The Black Keys, mas oferece um retrato honesto de dois músicos veteranos que, após quase 25 anos de parceria, ainda encontram motivação para transformar fracassos em flores. É ensolarado sem ser ingênuo, leve sem ser raso — e prova que, depois da tempestade, sempre pode haver um novo florescer.


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