Pular para o conteúdo principal

’74 Jailbreak (1984): o resgate de quando o AC/DC ainda soava como uma banda de bar


O sucesso estrondoso de Back in Black (1980) e a boa recepção de For Those About to Rock (We Salute You) (1981) haviam colocado o AC/DC entre os gigantes do rock mundial, mas o começo dos anos 1980 também trouxe um desafio: como manter a relevância depois de atingir o topo? Foi nesse contexto que surgiu ’74 Jailbreak, um EP curioso — e muitas vezes subestimado — dentro da discografia dos australianos.

Lançado entre Flick of the Switch (1983) e Fly on the Wall (1985), o disco não traz material novo, mas sim cinco faixas gravadas ainda na era Bon Scott, nunca antes lançadas fora da Austrália. A ideia era simples: apresentar ao público internacional um pedaço do AC/DC do início, quando a banda ainda soava mais crua, direta e com forte influência do blues e do rock de garagem.

O título vem da faixa “Jailbreak”, originalmente presenta na versão australiana do álbum Dirty Deeds Done Dirt Cheap (1976). É um clássico absoluto, com um dos riffs mais emblemáticos de Angus Young e uma narrativa cinematográfica sobre um presidiário em fuga — um exemplo perfeito do humor sombrio e da rebeldia que definiriam o estilo de Bon Scott. O clipe, gravado em março de 1976 e veiculado à exaustão na MTV quase uma década depois, ajudou a consolidar o status de culto da música e a reforçar o carisma de Scott como frontman.


As outras faixas — “You Ain’t Got a Hold on Me”, “Show Business”, “Soul Stripper” e “Baby, Please Don’t Go” — mergulham ainda mais fundo na sonoridade setentista do grupo. “Soul Stripper”, com seu groove arrastado e linhas de guitarra entrelaçadas, mostra um lado quase psicodélico da banda com direito a solos antológicos dos irmãos Young, enquanto “Baby, Please Don’t Go” (cover de Big Joe Williams) revela a ligação visceral do AC/DC com o blues elétrico. Já “Show Business” é um retrato ácido da vida na estrada, tema que o grupo revisitaria ao longo de toda a carreira. E “You Ain’t Got a Hold on Me”, uma das melhores canções da fase inicial da banda, funciona como a trilha perfeita para pegar a estrada a todo volume.

Ouvir ’74 Jailbreak é como abrir um portal para os pubs enfumaçados de Sydney e Melbourne, onde o AC/DC começou a moldar seu som inconfundível. O EP funciona como uma cápsula do tempo — um lembrete de que antes da grandiosidade das arenas e dos milhões de discos vendidos, havia uma banda de bar tocando alto, suando e acreditando no poder do rock and roll mais puro possível.

O EP não mudou o curso da carreira da banda, mas teve um papel importante: apresentou a geração pós-Back in Black ao espírito rebelde da era Bon Scott. É um registro essencial para entender de onde o AC/DC veio e como aquele som rude, cheio de energia e sem firulas acabou se tornando a espinha dorsal de todo o hard rock dos anos seguintes. 

É o AC/DC em estado bruto — sujo, divertido e absolutamente autêntico.

 

Comentários