O meio da década de 1980 foi um período de transformação profunda para o ZZ Top. Depois de brilhar durante os anos 1970 com seu blues texano pesado e cheio de groove, o trio formado por Billy Gibbons, Dusty Hill e Frank Beard percebeu que o mundo da música havia mudado. A explosão da MTV, o avanço da tecnologia e o domínio dos sintetizadores empurravam até os roqueiros mais durões para o território digital. Eliminator (1983) foi a resposta perfeita a esse novo cenário — uma fusão irresistível entre boogie, hard rock e pop eletrônico — e Afterburner (1985) chegou dois anos depois como sua sequência natural.
Mas enquanto Eliminator ainda mantinha os pés no chão poeirento do Texas, Afterburner mira o espaço sideral. O próprio conceito visual do álbum — com a famosa hot rod vermelha transformada em nave espacial — já indicava essa guinada futurista. O som segue o mesmo caminho: guitarras ainda afiadas, mas agora mergulhadas em camadas de teclados, programações eletrônicas e batidas precisas. O resultado é um disco que, embora soe datado aos ouvidos de hoje, representa o auge da ambição tecnológica do ZZ Top.
Faixas como “Sleeping Bag” e “Stages” sintetizam bem esse momento: refrões colantes, riffs sintetizados e uma pegada quase dançante que conquistou as rádios da época. “Rough Boy”, por outro lado, mostra o lado mais melódico da banda — uma balada suave e melancólica que se tornou um de seus maiores hits. Já “Velcro Fly” e “Can’t Stop Rockin’” exibem o humor característico do trio, agora embalado por grooves mecânicos e texturas eletrônicas que soam como uma jam entre um robô e um cowboy.
A crítica da época se dividiu. Muitos fãs das antigas torceram o nariz para o excesso de teclados e a produção polida assinada por Bill Ham, enquanto outros viram em Afterburner a consolidação do ZZ Top como uma banda capaz de evoluir sem perder identidade. O álbum vendeu mais de 5 milhões de cópias nos Estados Unidos, manteve o trio nas paradas e reforçou sua imagem como um dos nomes mais populares do rock norte-americano dos anos 1980.
Hoje, Afterburner é lembrado como um retrato preciso de sua era: exagerado, brilhante e irresistivelmente oitentista. Pode não ter o punch cru de Tres Hombres (1973) ou o equilíbrio perfeito de Eliminator, mas é um registro ousado de uma banda veterana abraçando o futuro com bigodes, óculos escuros e sintetizadores a todo volume. Um disco que mostra que o Texas também sabia falar a língua das máquinas.
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