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Burnin’ Sky (1977): o disco subestimado do Bad Company que merece ser redescoberto


Burnin’ Sky
(1977) marcou o início de uma nova fase na trajetória do Bad Company, uma das bandas mais emblemáticas surgidas no conceito de “supergrupo” britânico dos anos 1970. Depois de três álbuns de sucesso consecutivo (Bad Company, Straight Shooter e Run with the Pack), o grupo formado por Paul Rodgers, Mick Ralphs, Simon Kirke e Boz Burrell chegou ao quarto disco em meio a um certo cansaço criativo. Ainda assim, o disco mantém a elegância e o estilo característico da banda: um rock britânico com alma americana, feito de riffs robustos, grooves de blues e a voz poderosa e cheia de nuances de Rodgers.

Gravado no Château d’Hérouville, na França — o mesmo estúdio usado por Elton John, David Bowie e Fleetwood Mac —, Burnin’ Sky nasceu em uma época em que o rock começava a se fragmentar. O punk já tomava as ruas do Reino Unido e o hard rock clássico mostrava sinais de desgaste. O Bad Company, porém, se manteve fiel à sua identidade, entregando um disco de rock direto, com aquele clima de estrada e poeira que sempre esteve no DNA da banda.

A faixa-título é o grande cartão de visitas: um rock vigoroso, com um riff seco e uma performance vocal que resume o magnetismo de Paul Rodgers. “Morning Sun” e “Leaving You” trazem o balanço bluesy que o grupo dominava como poucos, enquanto “Like Water” e “Everything I Need” mostram o lado mais introspectivo e melódico, revelando uma banda madura e consciente de seu poder – “Everything I Need”, inclusive, é uma das poucas canções do disco que conversa diretamente com a sonoridade hard dos dois primeiros discos do grupo. Já “Man Needs Woman” e “Master of Ceremony” flertam com o soul e o funk, mostrando que o Bad Company sabia temperar seu hard rock com sutileza e groove.


Mesmo sem a força comercial dos três álbuns anteriores, Burnin’ Sky é um trabalho sólido, de uma banda que sabia exatamente o que fazia. É um disco de transição — menos imediato, mais atmosférico e, por isso, injustamente subestimado. Ele antecipa a sonoridade mais leve que o grupo exploraria em Desolation Angels (1979), e hoje soa como um registro honesto de uma das formações mais talentosas do rock britânico enfrentando as mudanças do tempo com classe e convicção.

Com Burnin’ Sky, o Bad Company entregou um álbum que não se rendeu às tendências, mas preferiu seguir sua própria trilha. Para quem busca entender a essência da banda — entre o hard rock, o blues e a soul music —, este é um capítulo essencial, ainda que menos celebrado, de uma das discografias mais consistentes dos anos 1970.

O disco só havia sido lançado em LP no Brasil em 1977. A primeira edição nacional em CD saiu em 2025 pela Wikimetal, em formato slipcase.

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