Vera Cruz, lançado em 2021, renovou a carreira de Edu Falaschi ao trazer o ex-vocalista do Angra acompanhado por uma banda irretocável – os guitarristas Roberto Barros e Diogo Mafra, o tecladista Fábio Laguna, o baixista Raphael Dafras e o baterista Aquiles Priester – e apostando em algo que podemos chamar de uma espécie de power metal extremo, com uma sonoridade que elevou as principais características do gênero a níveis ainda mais altos. Isso cativou uma parcela dos fãs e afastou outros, porém, Vera Cruz se mostrou um trabalho excelente e recolocou Falaschi no lugar que ele sempre mereceu estar: o de uma das maiores referências do metal brasileiro.
Após Eldorado (2023) e turnês celebrando os legados dos clássicos Rebirth (2001) e Temple of Shadows (2004), gravados durante a sua passagem pelo Angra, Edu Falaschi lançou Vera Cruz Live in São Paulo, ao vivo que ganhou edições em Blu-ray e em CD – essa análise é focada no CD, pois não tive acesso ao material em vídeo.
Vou começar a resenha com duas pequenas críticas. A primeira vai para o encarte do álbum, que apesar de trazer 24 páginas, não informa a data da gravação ao vivo e nem as canções em que as participações especiais do show subiram ao palco com Falaschi e companhia. Pelo que pesquisei, o show foi gravado no Tokio Marine Hall, em São Paulo, em 2022. Quanto às participações, temos Elba Ramalho repetindo o que fez na gravação de estúdio dividindo o vocal com Falaschi em “Rainha do Luar”, e Marcello Pompeu (Korzus) e Fernanda Lira (Crypta) assumindo papel de Max Cavalera em “Face of the Storm”. O álbum também conta com o violonista Fábio Lima e Tito Falaschi, irmão de Edu, em “Bonfire of the Vanities”. Além disso, Raissa Ramos e Fábio Caldeira (Maestrick) são os responsáveis pelos backing vocals.
O tracklist é redondinho e traz o álbum Vera Cruz tocado na íntegra. A performance é irretocável e a produção é excelente (aqui mais uma crítica ao encarte, que não informa quem respondeu por ela), o que só eleva o nível final do trabalho.
O show foi criticado por contar, segundo alguns fãs, com um número elevado de bases pré-gravadas e que, tanto no CD quanto no Blu-ray, teriam ganhado a companhia de overdubs – correções em estúdio de partes vocais e instrumentais que não teriam ficado a contento dos músicos. Sinceramente, não tenho a menor condição de avaliar se isso é verdade ou não, pois não assisti ao show ao vivo. E, mais ainda: se isso realmente aconteceu é algo que, sendo bem franco, não me incomoda nem um pouco. Desde que o rock é rock e, por sua extensão, desde que o metal é metal e que os álbuns ao vivo se tornaram populares, essa é uma prática recorrente e foi utilizada em clássicos aclamados como Alive! do Kiss, Live and Dangerous do Thin Lizzy e Unleashed in the East do Judas Priest, só pra citar três clássicos e aclamadíssimos discos ao vivo. Se o ao vivo de Falaschi tem ou não overdubs, isso foi feito de uma maneira muito bem feita e, sendo sincero mais uma vez, não só não me incomoda como é uma questão e uma discussão que não me importam. O que me incomodou em Vera Cruz Live in São Paulo foi o fade out entre as faixas, o que compromete a percepção de continuidade do show, transmitindo a sensação de que cada música foi gravada em uma apresentação diferente. Bastava um ajuste simples para isso ser corrigido.
Entre as canções, destaque para a abertura com o pé no fundo de “The Ancestry”, a igualmente rápida “Crosses”, a excelente “Land Ahoy” e o peso de “Face of the Storm”. O álbum traz também três faixas bônus, gravações ao vivo de três dos maiores clássicos do período em que Edu Falaschi esteve no Angra: “Nova Era” e “Heroes of Sand”, de Rebirth, e “Spread Your Fire”, de Temple of Shadows, executadas de maneira exemplar pela banda.
Vera Cruz Live in São Paulo eterniza não só um dos grandes álbuns lançados recentemente por um artista brasileiro, como também um dos maiores shows que o metal brasileiro assistiu nos últimos anos. Item obrigatório para fãs de Edu Falaschi e também do Angra, pois o caminho musical que o vocalista está explorando em sua carreira solo dá sequência à abordagem musical que o Angra poderia ter seguido – e não o fez – após um de seus melhores trabalhos, o cultuado Temple of Shadows.
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