Effigy of the Forgotten (1991), estreia do Suffocation, é um daqueles discos que redefiniram as fronteiras do metal extremo. Gravado no Morrisound Studios, em Tampa, sob a produção de Scott Burns — o mesmo responsável por clássicos do Death, Obituary e Sepultura —, o álbum colocou a banda de Nova York na linha de frente de uma nova vertente que, nos anos seguintes, seria conhecida como brutal death metal.
Na época, o death metal vivia um momento de expansão criativa. Bandas como Morbid Angel e Death exploravam complexidade técnica e ambição filosófica, enquanto o Cannibal Corpse mergulhava na brutalidade gore. O Suffocation, porém, trouxe algo diferente: um peso abissal aliado a uma precisão quase cirúrgica, com estruturas que misturavam velocidade absurda, passagens quebradas e riffs sincopados. Era a brutalidade elevada à arte.
O vocalista Frank Mullen entrega uma das performances mais influentes do gênero. Seu timbre, mais profundo e uniforme que o dos contemporâneos, ajudou a definir o padrão do vocal gutural moderno. A guitarra de Terrance Hobbs, repleta de arpejos dissonantes e alternâncias rítmicas, combinada à bateria hipnótica e milimétrica de Mike Smith, forma um muro sonoro que impressiona até hoje pela coesão e pela técnica. Não há espaço para respiro: tudo é pensado para esmagar. Completando a banda, temos o guitarrista Doug Cerrito, autor de todas as músicas com Hobbs – a exceção é “Involuntary Slaughter” – e o baixista Josh Barohn, também bastante ativo na composição.
Faixas como “Infecting the Crypts”, “Mass Obliteration” e “Seeds of the Suffering” sintetizam o espírito do disco: riffs labirínticos, quebras de tempo inesperadas e uma brutalidade que não soa caótica, mas inteligentemente estruturada. O título em si, Effigy of the Forgotten, resume bem a proposta: uma efígie sonora erguida em homenagem aos esquecidos — sombria, fria e monumental. Vale mencionar a participação de George “Corpsegrinder” Fischer nos vocais adicionais de “Reincremation” e “Mass Obliteration”. Na época ele ainda estava no Monstrosity, e entraria para o Cannibal Corpse apenas em 1995 – seu estilo vocal característico é muito influenciado pelo modo de cantar de Mullen.
O Suffocation inspirou toda uma geração de bandas técnicas e brutais, de Nile a Cryptopsy, de Dying Fetus a Decapitated. Muitos dos elementos que hoje consideramos típicos do death metal moderno — os slam riffs, os breakdowns pesados, os vocais inumanos — nasceram aqui.
Effigy of the Forgotten continua sendo uma pedra fundamental do metal extremo: um álbum que uniu técnica e selvageria com uma clareza que poucos conseguiram repetir. Se o Death trouxe a mente e o Morbid Angel o espírito, o Suffocation foi quem deu o corpo ao death metal.
O álbum era inédito no Brasil em qualquer formato, até o lançamento recente da Wikimetal em CD com luva protetora e encarte com as letras.


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