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Entre a escuridão e a luz: a viagem mística do The Cult em Love (1985)


O The Cult nasceu da transição. Entre o pós-punk e o hard rock, entre o gótico e o espiritual, entre a escuridão e a luz. Love, lançado em outubro de 1985, é o momento em que Ian Astbury e Billy Duffy encontram o ponto de equilíbrio entre o misticismo tribal que vinha do Southern Death Cult, como se chamava a primeira encarnação do grupo, e a ambição sonora de uma banda pronta para arenas. É o disco que definiu o som e a identidade do grupo.

O Reino Unido ainda respirava a ressaca do pós-punk e da new wave, enquanto o hard rock americano começava a dominar as rádios. O The Cult surgiu no meio desse turbilhão, misturando a intensidade quase xamânica de Astbury com os riffs elegantes e poderosos de Duffy. Love foi o passo além de Dreamtime (1984), que ainda soava preso às sombras góticas de bandas como The Sisters of Mercy. Aqui, o som ganhou corpo, brilho e propósito.

Produzido por Steve Brown, Love é uma tapeçaria sonora que mescla melodias etéreas com guitarras cintilantes e uma espiritualidade palpável. Há ecos de The Doors, Led Zeppelin e U2, mas tudo filtrado por uma energia própria — uma busca por transcendência que se manifesta tanto nas letras quanto nos arranjos.


O disco abre com “Nirvana”, e o nome não é acaso: trata-se de um convite à iluminação. “Big Neon Glitter” combina groove e textura, enquanto “Brother Wolf, Sister Moon” é uma das baladas mais belas e atmosféricas dos anos 1980 — um momento de pura comunhão entre voz e guitarra. Mas é em “Rain” e, principalmente, em “She Sells Sanctuary” que o The Cult alcança o sublime. Esta última, com seu riff hipnótico e aura mística, virou hino e permanece um dos grandes momentos do rock britânico. E ainda há a cereja do bolo: “Revolution”, uma das mais belas composições da banda e do rock oitentista.

O álbum abriu caminho para o sucesso global de Electric (1987) e Sonic Temple (1989), mas manteve uma aura única: é o elo entre o subterrâneo e o mainstream, entre o espiritual e o carnal. Décadas depois, o disco ainda soa vibrante, misterioso e vivo.

Love é o coração do The Cult. Um álbum onde o rock e o ritual se encontram, e onde cada nota parece pulsar com a promessa de algo maior. Uma viagem interior disfarçada de disco de rock — e, por isso mesmo, eterna.


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