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Iommi (2000): o encontro do criador do heavy metal com o futuro que ele ajudou a construir


Em outubro de 2000, o nu metal dominava as paradas, o metal tradicional buscava novas formas de se conectar com o público e o Black Sabbath, embora respeitado, era visto mais como uma lenda do passado do que uma força ativa. Foi nesse cenário que Tony Iommi, o arquiteto das trevas, decidiu lançar seu primeiro álbum solo — um disco que não apenas reafirmava sua relevância, mas também mostrava o quanto sua guitarra seguia moldando o som pesado décadas depois da estreia do Sabbath.

O projeto nasceu de colaborações pontuais, e o resultado é um álbum de duetos no sentido mais puro da palavra. Cada faixa traz um vocalista diferente, criando uma coleção de encontros entre o mestre dos riffs e vozes que marcaram diferentes gerações do rock e do metal. Há desde nomes lendários como o parceiro de crime Ozzy Osbourne (“Who’s Fooling Who”) e Brian May (“Flame On”, com vocais de Ian Astbury, do The Cult), até representantes da então nova geração como Billy Corgan (“Black Oblivion”) e Serj Tankian (“Patterns”). Essa mistura faz do disco uma obra única — um cruzamento entre eras, estilos e temperamentos musicais, unidos pelo som sombrio e inconfundível da guitarra de Tony Iommi.


O repertório é coeso, mesmo diante da diversidade de convidados. Faixas como “Goodbye Lament”, com Dave Grohl nos vocais e bateria, capturam o equilíbrio perfeito entre peso e melodia, soando como uma ponte entre o grunge e o metal clássico. “Time is Mine”, com Phil Anselmo, é densa e arrastada, quase claustrofóbica. “Meat”, com Skin (do Skunk Anansie), traz uma pegada moderna e hipnótica, mostrando o quanto Iommi estava atento ao som do fim dos anos 1990. E “Just Say No to Love”, com Peter Steele (Type O Negative), é puro doom elegante — uma das melhores performances vocais do disco e uma das colaborações mais inspiradas da carreira de ambos.

Produzido com esmero e sem pressa, Iommi é um disco de riffs maciços, camadas escuras e atmosferas que alternam entre o melancólico e o brutal. Ele captura a essência do criador do heavy metal em um momento de reinvenção, dialogando com um público que talvez não o conhecesse tão bem, mas que inevitavelmente reconhecia a força de sua guitarra.

Iommi é um álbum que mostra que, mesmo após décadas, Tony seguia sendo o verdadeiro núcleo gravitacional do metal. Cada convidado parece girar em torno de seu som, atraído pela energia primária que ele sempre emanou. Passados vinte e cinco anos de seu lançamento, o disco permanece como um registro subestimado, mas essencial — o encontro de um pioneiro com o futuro que ele próprio ajudou a criar.


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