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O crepúsculo dos heróis: Power of the Dragonflame (2002) e o adeus ao velho Rhapsody


Power of the Dragonflame
(2002) marcou o fim de uma era para o Rhapsody — ou, como a banda gostava de se autodenominar na época, The Kings of Hollywood Metal. O disco encerra a saga épica Emerald Sword, uma história de fantasia heroica que se estendeu por cinco álbuns e se tornou a espinha dorsal da identidade do grupo italiano. É também o ponto culminante da estética que eles vinham construindo desde Legendary Tales (1997): uma fusão grandiosa entre o power metal neoclássico e a trilha sonora cinematográfica de proporções wagnerianas.

O Rhapsody surgiu no final dos anos 1990 como uma resposta barroca ao metal europeu — uma banda que ousava ser mais teatral, mais melódica e mais fantasiosa do que qualquer uma de suas contemporâneas. Sob o comando do guitarrista e compositor Luca Turilli e do tecladista Alex Staropoli, o grupo elevou o conceito do metal sinfônico a níveis de exagero quase operístico. Power of the Dragonflame leva isso ao limite, mas o faz com uma convicção tão inabalável que o resultado é irresistível.

A produção é cristalina e grandiosa, comandada novamente por Sascha Paeth e Miro, dupla responsável por moldar o som do power metal europeu da época. Os arranjos orquestrais, os corais e as melodias influenciadas tanto em composições clássicas quanto na Idade Média criam uma atmosfera de filme épico medieval. Musicalmente, o álbum é um tour de force: velocidade, técnica e melodia convivem em equilíbrio raro.


Entre os destaques, “Knightrider of Doom” abre o disco como uma explosão de energia, com riffs precisos e refrão heroico. “The March of the Swordmaster” é puro Rhapsody — cavalgante, triunfante e adornado com uma teatralidade irresistível. “Lamento Eroico” mostra a faceta mais dramática da banda, com Fabio Lione entregando uma performance vocal monumental em italiano. Lione também brilha em “When Demons Awake” explorando o lado agressivo de sua potente voz, chegando a beirar o vocal gutural. E o encerramento com “Gargoyles, Angels of Darkness” é um épico de 19 minutos que sintetiza tudo o que o Rhapsody representava: fantasia, virtuosismo e emoção.

O álbum soou como um trabalho quase messiânico dentro do nicho do metal sinfônico, consolidando o Rhapsody como referência máxima do estilo e inspirando uma geração inteira de bandas a abraçar o lado mais fantástico e cinematográfico do metal. Ao mesmo tempo, também marcou o fim da primeira, e mais pura, fase da banda, que no trabalho seguinte, Symphony of Enchanted Lands II – The Dark Secret (2004), daria início à sua segunda grande saga, batizada como The Dark Secret Saga e que se estenderia por quatro discos, tendo a sua conclusão em From Chaos to Eternity (2011).

Power of the Dragonflame soa como a apoteose de um gênero que acreditava no poder do escapismo, da melodia e da imaginação. Um disco que não pede desculpas por ser grandioso — e que, justamente por isso, segue sendo um dos pilares do power metal sinfônico. Um álbum que pede para ser ouvido com um copo de hidromel, uma espada imaginária e a certeza de que a fantasia também é uma forma de resistência.

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