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O divisor de águas: por que Meddle (1971) é o verdadeiro início do Pink Floyd gigante


Há um consenso geral de que o grande salto do Pink Floyd para o Olimpo do rock aconteceu com o clássico The Dark Side of the Moon em 1973. No entanto, para os colecionadores e puristas que entendem a importância da transição criativa, é em Meddle (1971) que a banda britânica finalmente encontra a bússola que a guiaria à excelência. Lançado após o ambicioso, mas disperso, Atom Heart Mother (1970), Meddle é a prova de que o quarteto havia superado a sombra psicodélica de Syd Barrett e estava pronto para criar uma nova forma de rock progressivo, coesa e cinematográfica.

Meddle nasceu de um método de trabalho inovador e quase anárquico: os membros se reuniam e criavam fragmentos musicais, muitas vezes sem que um soubesse o que o outro estava fazendo, com o objetivo de costurar esses riffs e ideias em composições finalizadas. O resultado, paradoxalmente, foi uma coesão inédita. As influências aqui são menos de outras bandas e mais da própria busca por um som atmosférico e técnico que fundisse a psicodelia espacial com o recém-cunhado rock progressivo.

O álbum é dividido em dois blocos de excelência, cada um mostrando uma faceta crucial da banda. O lado A abre com "One of These Days", uma das melhores músicas da história do Pink Floyd e uma verdadeira explosão instrumental. Impulsionada pelo baixo hipnótico de Roger Waters (que na verdade é dobrado com o de Gilmour), e pela frase rouca e ameaçadora de Nick Mason ("One of these days I'm going to cut you into little pieces"), a faixa é uma aula de hard prog. É a perfeita declaração de que o Pink Floyd agora dominava a dinâmica entre peso e groove.

"Fearless" é uma das grandes baladas acústicas e subestimadas da banda. Com letra de Waters falando sobre coragem e determinação, e o vocal encantador de Gilmour, a música é contida, mas poderosa. O seu final, com o canto da torcida do Liverpool entoando "You'll Never Walk Alone," é um dos momentos mais icônicos (e inusitados) da discografia do grupo.


Ocupando todo o lado B e superando 23 minutos de duração, "Echoes" é a joia da coroa. É a primeira grande suíte progressiva que estabelece o DNA do Pink Floyd que dominará os anos 1970, e não apenas uma das maiores obras-primas da banda, mas de toda a história do rock. É uma jornada sonora que passa por temas melódicos perfeitos, jams espaciais (com o famoso efeito "pássaro" de guitarra de Gilmour) e momentos de experimentação eletrônica bem dosada. Waters compõe uma letra existencial e profunda, falando sobre a origem da vida e a união, cujos versos  dialogam diretamente com a icônica capa (a orelha submersa captando ondas).

O principal legado de Meddle é ser o modelo para os álbuns que se seguiriam. David Gilmour chegou a declarar: "Meddle é um dos meus discos favoritos. Para mim, é o começo de tudo o que o Pink Floyd faria." Ele está certo. A ambição e a arquitetura sonora de "Echoes" pavimentaram o caminho para a estrutura conceitual de álbuns como The Dark Side of the Moon (1973), Wish You Were Here (1975) e Animals (1977). A banda aprendeu a usar o estúdio não apenas para gravar, mas para compor. As texturas e as transições de Meddle mostram um domínio técnico e criativo que estava ausente nos trabalhos anteriores.

Meddle pode não ter o mesmo número de vendas que seus sucessores, mas sua riqueza, sua diversidade e a soberba incontestável de "Echoes" fazem dele um álbum fundamental e um tesouro na coleção de qualquer audiófilo que deseje entender como o Pink Floyd se transformou de uma banda psicodélica interessante em um dos maiores fenômenos do rock de todos os tempos.


Comentários

  1. Deus abençoe o PUNK por nos livrar disso! Hahahaha. Grande abraço, cadão, o novo layout do site ta incrível!

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