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O som da fantasia: a jornada épica do Rhapsody em Symphony of Enchanted Lands (1998)


No final dos anos 1990, o heavy metal europeu vivia uma nova fase. Enquanto o power metal ressurgia com força nas mãos de bandas como Gamma Ray, Blind Guardian e Stratovarius, um grupo italiano apareceu disposto a transformar o gênero em algo maior, quase cinematográfico. O Rhapsody, liderado pelo guitarrista Luca Turilli e pelo tecladista Alex Staropoli, trouxe uma proposta ousada: unir o metal melódico ao espírito da música clássica e às narrativas de fantasia épica típicas da literatura de Tolkien e das trilhas sonoras de filmes.

Symphony of Enchanted Lands, lançado em 1998, foi o segundo álbum da banda — e o disco que consolidou de vez a identidade do Rhapsody. Se o debut Legendary Tales (1997) já havia chamado atenção pela mistura de virtuosismo e grandiosidade, aqui a fórmula alcança sua forma definitiva. Cada faixa parece um capítulo de uma saga medieval, costurada por arranjos orquestrais, corais majestosos e solos de guitarra que mais soam como trilhas de batalhas míticas do que como simples demonstrações de técnica.

O álbum abre com “Epicus Furor”, uma introdução que define o tom da jornada: épico, heróico e sem medo do exagero. Em seguida, “Emerald Sword” surge como o hino máximo do Rhapsody, uma das faixas mais reconhecíveis de toda a carreira da banda. É impossível não ser levado pela melodia contagiante, pelos vocais teatrais de Fabio Lione e pelo refrão que poderia embalar qualquer cruzada em busca da glória.

Outros destaques incluem “Wisdom of the Kings”, com um dos riffs mais inspirados de Turilli; “Riding the Winds of Eternity”, que combina velocidade e atmosfera; e a faixa-título “Symphony of Enchanted Lands”, uma suíte de mais de 13 minutos que reúne todos os elementos que definem o som da banda — sinfonias, narrativas, dramaticidade e emoção em larga escala.


As influências são claras: música erudita, trilhas sonoras de Hollywood (John Williams, Ennio Morricone, Basil Poledouris) e o metal neoclássico de Yngwie Malmsteen. Mas o mérito do Rhapsody foi transformar tudo isso em algo próprio, criando o que o grupo batizou de Hollywood Metal. Essa fusão deu origem a um subgênero inteiro, o symphonic power metal, que inspirou uma legião de bandas ao redor do mundo — de Fairyland e Dark Moor até Dragonland e Twilight Force.

O disco colocou o Rhapsody no mapa mundial e ajudou a reaproximar o metal do universo da fantasia. O álbum também redefiniu o que significava soar “épico” no metal: não bastava mais ser rápido ou melódico — era preciso ser grandioso, teatral e visualmente envolvente.

Symphony of Enchanted Lands continua sendo o auge criativo do Rhapsody. Um álbum que, mesmo mergulhado no exagero, soa sincero e apaixonado em cada nota. É o tipo de disco que transporta o ouvinte para outro mundo — e, para quem se deixa levar, oferece uma das experiências mais intensas e encantadas que o power metal já produziu.

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