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Origem: a HQ que revelou o passado trágico e definiu Wolverine (2003, Panini)


Durante décadas, o passado de Wolverine foi um dos maiores mistérios da Marvel. Fragmentos, memórias falsas e boatos formavam um quebra-cabeça que nem o próprio Logan conseguia montar. Quando Origem chegou às bancas em 2001, o impacto foi imediato: pela primeira vez, os leitores conheceriam quem era, de fato, o homem por trás das garras de adamantium. E o resultado foi uma história ao mesmo tempo reveladora e profundamente melancólica — uma tragédia envolta em beleza e dor.

Escrita por Paul Jenkins, com a participação de Bill Jemas e Joe Quesada na concepção, e ilustrada magistralmente por Andy Kubert e Richard Isanove, Origem narra a infância de James Howlett, um garoto franzino e sensível que cresce em uma mansão rural no Canadá do século XIX. É lá que ele descobre sua verdadeira natureza mutante após um acontecimento traumático que redefine completamente sua vida. O garoto se torna um fugitivo, tentando entender quem é e o que há de monstruoso dentro dele — um tema que ressoaria por toda a trajetória de Wolverine.

O enredo carrega influências claras do romantismo gótico e de clássicos literários como O Morro dos Ventos Uivantes e Frankenstein. Jenkins explora o lado trágico da natureza humana, onde inocência e brutalidade convivem lado a lado. A narrativa é delicada, quase poética, com um ritmo que contrasta com o tradicional frenesi dos quadrinhos de super-heróis.

Visualmente, Origem é um espetáculo. A arte de Andy Kubert atinge um de seus pontos mais altos, com traços expressivos e uma composição cinematográfica que amplifica a emoção de cada cena. O trabalho de Richard Isanove na coloração digital — uma novidade para a época — confere à HQ uma textura pictórica, quase como uma pintura a óleo. Essa estética única contribui para o tom nostálgico e trágico da história, tornando Origem uma das obras mais bonitas já publicadas pela Marvel.

O que antes era apenas um mistério se transformou em um mito trágico, consolidando Wolverine não apenas como um guerreiro atormentado, mas como um personagem profundamente humano. Origem redefiniu o herói, influenciando tanto as histórias em quadrinhos posteriores quanto a representação do personagem nos cinemas, especialmente na trilogia de filmes estrelada por Hugh Jackman, que ecoa diversos elementos da HQ.

Mais de duas décadas depois, Origem continua sendo uma leitura essencial. É uma história que desarma o leitor pela vulnerabilidade, pela dor e pela beleza com que retrata um dos personagens mais icônicos dos quadrinhos. Um conto sobre monstros e humanidade — e sobre como, às vezes, as feridas mais profundas são aquelas que nos tornam quem somos.

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