Quando o Angra renasceu: a força imortal de Rebirth (2001) e a nova edição de um clássico do metal brasileiro
O Angra deixou o passado para trás e literalmente renasceu em Rebirth. Mais que marcar o início de uma nova fase na carreira da banda brasileira, o álbum apresentou uma sonoridade mais rica e madura e deu início àquela que muitos consideram a melhor fase do quinteto, e com a sua melhor formação. Lançado em 2001, o disco chegou após a conturbada saída de Andre Matos, Luis Mariutti e Ricardo Confessori, episódio que poderia ter significado o fim do grupo. Mas os guitarristas Rafael Bittencourt e Kiko Loureiro decidiram continuar, recrutaram Felipe Andreoli (baixo), Aquiles Priester (bateria) e Edu Falaschi (vocais), e construíram uma das formações mais icônicas da história do metal brasileiro – e, porque não, mundial.
O Angra havia conquistado respeito internacional com Angels Cry (1993) e Holy Land (1996), além de manter o prestígio com Fireworks (1998). A saída de três membros originais levantou dúvidas sobre a continuidade do grupo. A resposta veio com Rebirth, um trabalho que uniu a tradição da banda – a fusão entre heavy metal, música erudita e ritmos brasileiros – a um frescor melódico e moderno. A produção, assinada por Dennis Ward, garantiu brilho e clareza, dando peso sem perder a sofisticação dos arranjos.
Entre os destaques, a faixa-título é um hino, sintetizando o espírito de renascimento com refrão poderoso e atmosfera épica. “Nova Era”, primeiro single, é um soco de energia que conquistou fãs imediatamente e se tornou presença obrigatória nos shows. “Millennium Sun” impressiona pelo uso de elementos progressivos e climáticos, enquanto “Heroes of Sand” traz melodias marcantes que exploram toda a versatilidade da voz de Edu Falaschi. Já “Running Alone”, com mais de oito minutos, é a grande peça progressiva do álbum, misturando passagens intrincadas, orquestrações e peso em uma narrativa musical envolvente.
O impacto foi imediato. O disco não apenas consolidou a nova formação como levou o Angra a um novo patamar de popularidade, garantindo turnês internacionais e uma base de fãs ainda mais ampla. Muitos consideram essa fase – que se estendeu até o subestimado Aurora Consurgens (2006) – como o auge criativo do grupo.
Mais de duas décadas depois, Rebirth permanece como um dos álbuns mais importantes do metal brasileiro. Ele provou que o Angra era maior que suas crises internas, mostrou a força da renovação artística e entregou músicas que resistem ao tempo. É um trabalho que simboliza superação, reinvenção e, acima de tudo, a capacidade de transformar a adversidade em arte.
O disco foi relançado no final de 2024 em uma nova edição incluindo pôster e trazendo quatro músicas extras – as versões demo de “Running Alone”, “Acid Rain”, “Rebirth” e “Unholy Wars”. Essa nova edição é uma ótima oportunidade para quem ainda não possui o CD em sua coleção, e também para os colecionadores, pois traz atrativos como os mencionados acima. O encarte também é ligeiramente diferente, com a inclusão de uma galeria de fotos. O som passou por uma remasterização, porém o resultado prejudicou um pouco a sonoridade do álbum, principalmente a bateria, que ficou com um timbre estranho e opaco. Mesmo com esse deslize, vale a pena adquirir a nova versão, pois trata-se de um dos melhores e mais importantes álbuns da história do metal brasileiro.
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