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Stairway to Heaven / Highway to Hell (1989): quando o hard rock pregou a paz e quis mudar o mundo


Stairway to Heaven / Highway to Hell
é um documento de época. Lançada em 1989 pela Mercury, a compilação reuniu algumas das maiores bandas de hard rock e heavy metal do planeta com um propósito nobre: arrecadar fundos para a Make a Difference Foundation, instituição criada para apoiar o tratamento de viciados em drogas em álcool. 

As bandas participantes – Skid Row, Scorpions, Ozzy Osbourne, Mötley Crüe, Bon Jovi e Cinderella – tocaram todas no lendário Moscow Music Peace Festival, festival gigantesco que aconteceu na capital da então União Soviética em agosto de 1989 e apresentou o rock e metal ocidentais para milhões de jovens russos. Realizado durante a Glasnost, a abertura da URSS para o mundo sob a liderança de Mikhail Gorbachev, o festival se tornaria símbolo da aproximação cultural entre Estados Unidos e União Soviética no fim da Guerra Fria. O disco nasceu, portanto, de um contexto em que a música era vista como ponte entre mundos até então opostos.

Idealizado por Doc McGhee — empresário do Mötley Crüe, Bon Jovi e Skid Row — o festival e o álbum tinham também uma conotação pessoal: McGhee havia sido condenado por tráfico de drogas e, como parte do acordo judicial, decidiu organizar um evento beneficente em prol da fundação Make a Difference. A mensagem de redenção atravessa todo o projeto, que ganha ainda mais peso por unir artistas que viviam o auge do estrelato e do excesso.


O repertório é uma mistura explosiva de covers de clássicos do rock, gravadas exclusivamente para a coletânea. O disco abre com a banda soviética Gorpky Park fazendo uma versão para a lendária “My Generation”, do The Who. O Skid Row revisita “Holidays in the Sun”, do Sex Pistols, enquanto o Scorpions retorna ao legado do The Who com uma versão personalíssima para “I Can’t Explain”. Ozzy entrega um dos grandes momentos do disco com uma releitura pesadíssima para “Purple Haze”, de Jimi Hendrix, acompanhado por Zakk Wylde, Geezer Butler e Randy Castillo. 

O Mötley Crüe revisita “Teaser”, de Tommy Bolin, com peso e elegância, enquanto o Bon Jovi entrega uma versão emocional de “The Boys Are Back in Town”, do Thin Lizzy. O Cinderella, uma das melhores e mais subestimadas bandas do glam metal, mostra sensibilidade em “Move Over”, clássico de Janis Joplin. “Moby Dick”, cavalo de batalha do lendário John Bonham, baterista do Led Zeppelin, ganha uma versão coletiva tocada por Tico Torres (Bon Jovi), seu filho Jason Bonham e a dupla Mickey Curry e Jim Vallance, da banda de Bryan Adams. Há uma grande jam no final, com versões ao vivo de clássicos do rock da década de 1950 como “Hound Dog”, “Long Tall Sally” e “Blue Suede Shoes”, além da imortal “Rock and Roll” do Led Zeppelin.

Um ponto importante é que todas as canções presentes no disco são de bandas ou artistas que perderam a vida devido às drogas e ao álcool, reforçando a mensagem pretendida. O próprio título, unindo dois dos maiores hinos do Led Zeppelin e do AC/DC, deixa isso ainda mais evidente.

Stairway to Heaven / Highway to Hell capturou um instante em que o hard rock ainda era gigantesco e acreditava poder mudar o mundo. Ainda que soe datado em certos momentos, o valor histórico e simbólico é inegável. Representa o ápice do idealismo oitentista e o início de uma transição: poucos anos depois, o grunge tomaria o lugar dessas bandas, e o glamour daria lugar à introspecção.

Um item muito legal e interessante, retrato de um tempo em que guitarras e refrões poderiam, de fato, ser ferramentas de paz e tinham o poder de mudar o mundo.

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