Voivod em Killing Technology (1987): quando o thrash metal encontrou o futuro

A cena thrash metal de meados dos anos 1980 estava em plena ebulição. Enquanto Metallica, Slayer, Megadeth e Anthrax consolidavam a fama do estilo nos Estados Unidos, e nomes como Kreator, Destruction e Sodom faziam o mesmo na Alemanha, um quarteto canadense surgia com uma abordagem bem distinta: o Voivod. Vindo de Jonquière, no Quebec, a banda já havia mostrado personalidade nos dois primeiros discos, War and Pain (1984) e Rrröööaaarrr (1986), mas foi em Killing Technology que alcançou um novo patamar criativo.

Lançado em 1987, o terceiro álbum do Voivod marca uma virada na sonoridade do grupo. Se antes predominava um thrash sujo e barulhento, aqui aparecem arranjos mais complexos, dissonâncias e uma atmosfera futurista que logo se tornaria a marca registrada da banda. O som ganhou contornos progressivos e experimentais, revelando a influência de nomes como Pink Floyd, King Crimson e Rush, filtrados pelo peso do Motörhead e pela urgência do punk.

O resultado é um disco que soa único até hoje. A faixa-título abre o álbum com agressividade e já mostra a nova direção, equilibrando riffs cortantes de Piggy, a bateria criativa de Away e os vocais estridentes de Snake. “Overreaction” mantém a energia, enquanto “Tornado” é um thrash rápido e desconcertante. Já “Forgotten in Space” e “This Is Not an Exercise” são destaques absolutos, com construções que apontam para um thrash progressivo, quase espacial, algo que praticamente ninguém fazia na época.

A produção de Harris Johns (conhecido por trabalhar com Kreator, Sodom e Helloween) ajudou a dar clareza ao caos, permitindo que os elementos mais ousados do Voivod se sobressaíssem sem perder o peso. O encarte também reforça a identidade sci-fi do grupo, expandindo o universo visual criado por Away, que sempre foi um diferencial da banda.

O álbum abriu caminho para a sequência Dimension Hatröss (1988) e Nothingface (1989), dois marcos que consolidaram o Voivod como uma das formações mais originais e inventivas do metal. Mais do que isso, mostrou que o thrash podia ir além da velocidade e da agressividade, incorporando camadas de experimentação e inteligência musical.

Killing Technology é visto como o primeiro grande clássico do Voivod, o ponto em que eles deixaram de ser apenas mais uma banda do underground e se transformaram em referência obrigatória para qualquer discussão sobre inovação dentro do metal. Sua influência pode ser percebida em nomes tão distintos quanto o Coroner, o Vektor e até em bandas de post-metal e prog extremo.

Um disco que continua soando moderno, perigoso e instigante quase quatro décadas após o lançamento.

Segundo o banco de dados do Discogs, o álbum nunca havia sido lançado no Brasil em nenhum formato até 2025. A Wikimetal colocou no mercado uma edição em CD com luva protetora (slipcase) e encarte com as letras. Uma oportunidade imperdível de ter este clássico na sua coleção.