O segundo volume de Asterix Omnibus, publicado no Brasil pela Editora Record, é um retrato da consolidação de um dos maiores fenômenos dos quadrinhos europeus. Reunindo Asterix Gladiador, Uma Volta pela Gália com Asterix e Asterix e Cleópatra, o livro mostra como a dupla René Goscinny e Albert Uderzo transformou uma simples aldeia gaulesa em um espelho cômico da civilização ocidental.
Essas três aventuras, publicadas originalmente na França nos anos de 1964 e 1965, marcam o início da fase de ouro da série. Goscinny já dominava o ritmo da comédia, costurando referências históricas, trocadilhos e sátiras políticas em roteiros precisos. Em Asterix Gladiador, o bardo Chatotorix é sequestrado e levado a Roma, rendendo uma paródia deliciosa dos espetáculos de arena e da burocracia imperial. Uma Volta pela Gália funciona como um tour de identidade nacional — uma espécie de “road movie” em formato de quadrinhos, onde Asterix e Obelix percorrem a Gália colecionando especialidades locais e zombando de regionalismos. Já Asterix e Cleópatra é puro espetáculo: humor visual, ritmo cinematográfico e um Egito reimaginado com ironia, exagero e charme.
Uderzo, no auge, entrega páginas que são verdadeiras obras de arte visuais. O traço expressivo, as cores vivas e a clareza narrativa transformam até a cena mais caótica em leitura fluida. É impressionante como cada rosto, cada gesto, carrega uma piada visual — e como a arte, mesmo carregada de detalhes, nunca perde a leveza. Cleópatra, em especial, é o exemplo desse ápice: monumental, engraçada e visualmente exuberante.
Essas histórias ajudaram Asterix a cruzar fronteiras, conquistando leitores de todas as idades e influenciando gerações de autores. O humor de Goscinny é atemporal porque fala sobre poder, identidade e resistência com uma ironia elegante, sempre atual. Asterix não é apenas engraçado: é crítico, culto e humanista.
A edição da Record reúne os três álbuns clássicos (os volumes 4, 5 e 6 da série original) em um volume de 152 páginas impressas em papel couchê de alta gramatura, no formato 20,5 x 27,5 cm. A capa traz aplicação hot stamp no título, valorizando o apelo colecionável da coleção. No entanto, as falhas percebidas no primeiro volume seguem neste segundo, como a ausência de textos introdutórios contextualizando cada uma das edições – o volume 5, por exemplo, traz a primeira aparição de Ideiafix, o cachorrinho que é mascote de Obelix e se transformou em um dos personagens mais icônicos da série – e o erro inadmissível de revisão presente na biografia de René Goscinny nas páginas finais da edição.
Ler Asterix Omnibus Vol. 2 é perceber como a genialidade de Goscinny e Uderzo ainda soa moderna. As piadas continuam afiadas, os personagens permanecem carismáticos e o ritmo é perfeito. É humor inteligente com acabamento gráfico de altíssimo nível, e uma lembrança de que, mesmo nas histórias mais absurdas, o pequeno e o teimoso podem resistir aos grandes impérios.


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