Projetos que reúnem veteranos do rock clássico costumam despertar curiosidade e desconfiança em igual medida. Big Trouble, disco de estreia do Hollywood Monsters, lançado em 2014, é um bom exemplo disso. Idealizado pelo músico francês Steph Honde, o álbum nasce da admiração pelo hard rock dos anos 1970 e 1980 e da oportunidade de tocar com alguns dos nomes que ajudaram a moldar esse som, entre eles Vinny Appice (Black Sabbath, Dio), Tim Bogert (Vanilla Fudge, Beck, Bogert & Appice) e Don Airey (Deep Purple, Rainbow).
O projeto surgiu quando Honde, então radicado nos Estados Unidos, começou a trocar ideias e demos com Appice. A química foi imediata: riffs robustos, grooves pesados e uma sonoridade que remete diretamente a uma era em que o rock soava mais orgânico, com ênfase em performance e feeling. O resultado é um álbum que mistura hard rock clássico, blues moderno e ecos de heavy tradicional, costurado por uma produção que valoriza o calor dos instrumentos e a vibração das gravações ao vivo.
Big Trouble é uma viagem no tempo. As referências a Deep Purple, Whitesnake, Rainbow e Dio são claras, não apenas pelo pedigree dos músicos, mas pela forma como as canções são estruturadas: riffs encorpados, teclados vintage, refrãos melódicos e solos cheios de propósito. Steph Honde é o centro criativo do projeto: além de compor todas as faixas, canta e toca guitarra. Sua voz, de timbre grave e rouco, lembra muito a de David Coverdale, o que faz com que o álbum tenha uma aura de “álbum perdido” do Whitesnake.
Entre os destaques, “Move On” abre o disco com energia e clima de arena, guiada pelo groove firme de Vinny Appice. “Big Trouble”, faixa-título, traz um riff contagiante e um refrão que poderia facilmente estar em um álbum do Whitesnake dos anos 1980. “The Ocean” revela o lado mais melódico do grupo, enquanto “Village of the Damned” mergulha em atmosferas sombrias que lembram o Dio da fase Lock Up the Wolves (1990). Há também espaço para momentos mais introspectivos, como “Song for a Fool”, que adiciona um toque de melancolia bluesy à mistura. O falecido Paul Di’Anno canta em “Fuck You All”, música que encerra o disco e destoa negativamente das demais, tanto na sonoridade quanto na inspiração. Uma presença totalmente dispensável.
Embora o álbum não apresente nada realmente novo, sua força está na honestidade com que presta tributo a uma era. Honde não tenta reinventar o hard rock — ele o celebra, com paixão e respeito. O resultado não é original, porém extremamente agradável, com uma coleção de boas músicas.
Big Trouble é um disco que soa como se tivesse sido perdido no tempo, gravado em algum estúdio britânico em 1978 e redescoberto décadas depois. Para quem sente falta da energia crua e das melodias robustas do hard setentista, o álbum é uma boa pedida e uma lembrança de que, mesmo em tempos digitais, ainda há espaço para discos feitos com alma, suor e amplificadores no talo.
A edição brasileira lançada pela Voice Music e Heavy Metal Rock traz encarte de 12 páginas com as letras e sete faixas acústicas extras.


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