Quando o Yes lançou 90125 em novembro de 1983, o mundo do rock progressivo já era outro. As paisagens sonoras elaboradas dos anos 1970 haviam perdido espaço para a objetividade das rádios FM e para a estética visual da MTV. Bandas antes sinônimo de virtuosismo precisavam se reinventar para sobreviver — e poucas fizeram isso com tanta ousadia e sucesso quanto o Yes.
O álbum nasceu de uma ideia que, ironicamente, não era originalmente do Yes. Após o fim da banda no início da década, o guitarrista Trevor Rabin planejava um novo projeto chamado Cinema, ao lado do baterista Alan White e do baixista Chris Squire. A entrada de Tony Kaye e, posteriormente, do vocalista Jon Anderson, acabou transformando o grupo em uma nova encarnação do Yes. A mudança de nome foi uma decisão estratégica da gravadora: usar o peso da marca para alavancar o lançamento. Mas o som, esse sim, era radicalmente diferente.
Produzido por Trevor Horn (ex-Buggles e responsável pelo subestimado Drama de 1980, em que assumiu os vocais da banda), 90125 mergulha na sonoridade pop e tecnológica da época, com sintetizadores cintilantes, guitarras precisas e uma produção cristalina. O disco equilibra o virtuosismo característico da banda com uma linguagem moderna e acessível. O resultado foi um sucesso colossal: “Owner of a Lonely Heart” chegou ao primeiro lugar da Billboard, algo impensável para um grupo associado a suítes de vinte minutos e temas místicos.
Além do single que redefiniu a carreira da banda, o álbum guarda outros grandes momentos. “Hold On” combina energia e melodia de forma contagiante. “Changes” é um dos destaques absolutos, com sua construção dinâmica e arranjos complexos disfarçados de pop. “Leave It” explora harmonias vocais intrincadas em clima quase experimental. E “Hearts” encerra o disco de modo grandioso, trazendo de volta um pouco da espiritualidade que sempre esteve no DNA do Yes.
Mais do que uma guinada comercial, 90125 foi uma reinvenção completa. O Yes mostrou que podia dialogar com os anos 1980 sem abrir mão de sua identidade. Trevor Rabin trouxe um senso de modernidade e foco que empurrou a banda para novas plateias, enquanto Trevor Horn consolidou sua reputação como um dos produtores mais inovadores da década.
O impacto foi imediato: milhões de cópias vendidas, prêmios e uma nova geração de fãs que descobriu o Yes não por Close to the Edge (1972), mas por “Owner of a Lonely Heart”. O álbum ainda divide opiniões entre os puristas, mas é inegável que 90125 salvou o Yes do esquecimento e provou que o progressivo podia evoluir junto com seu tempo.
Entre o passado monumental e o futuro incerto, 90125 foi o ponto de equilíbrio. Um disco que uniu técnica e emoção, cérebro e coração — exatamente o que sempre fez do Yes uma das bandas mais fascinantes do rock.


Comentários
Postar um comentário
Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.