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Entre o peso e a melodia: o equilíbrio perfeito do Kiss em Rock and Roll Over (1976)


Depois da consagração com Alive! (1975) e o sucesso comercial de Destroyer (1976), o Kiss estava em um momento decisivo. O disco ao vivo havia salvado a banda da falência e transformado os quatro mascarados em fenômeno popular. Já Destroyer, produzido por Bob Ezrin, trouxe uma sonoridade mais elaborada e experimental. Parte do público amou o refinamento, mas outra sentiu falta do peso direto e da crueza que caracterizavam os primeiros álbuns. Foi justamente para reconquistar essa parcela que o Kiss gravou Rock and Roll Over.

Lançado em novembro de 1976, o disco marcou um retorno às raízes: gravações mais simples, guitarras na linha de frente e uma produção que capturava o espírito de uma banda tocando em um pequeno estúdio. O comando ficou novamente com Eddie Kramer, que já havia trabalhado com a banda em Alive!. Kramer entendeu o que o Kiss precisava: som cru, alto e direto. Para isso, montou o estúdio dentro de um teatro abandonado em Nanuet, Nova York, aproveitando a acústica natural do espaço.

O resultado é um dos discos mais equilibrados e consistentes da carreira do Kiss. Rock and Roll Over combina o punch do hard rock com melodias cativantes e refrães colantes, a fórmula definitiva da banda. A faixa de abertura, “I Want You”, é um exemplo perfeito: começa suave, com violão, e explode em guitarras cortantes e vocais agressivos. “Take Me” e “Ladies Room” mantêm a energia, com riffs simples e refrães instantâneos. Mas é em “Calling Dr. Love” que o álbum encontra um de seus maiores clássicos — Gene Simmons em seu melhor momento, canalizando o personagem demoníaco em um groove irresistível e cheio de atitude.

Paul Stanley entrega performances marcantes em “Mr. Speed” e “Makin’ Love”, duas das melhores faixas da história do Kiss, enquanto Peter Criss brilha em “Baby Driver” e na clássica “Hard Luck Woman”, com seu timbre rasgado e feeling de soul singer perdido em um corpo de baterista de rock – essa última soa como se Rod Stewart fosse o vocalista do Kiss. Ace Frehley, por sua vez, solidifica aqui sua identidade como guitarrista, com solos curtos, melódicos e perfeitamente colocados — o som de alguém que entende que menos é mais.


Embora
Rock and Roll Over não tenha alcançado o mesmo impacto comercial de Destroyer, foi um sucesso respeitável: disco de platina nos Estados Unidos com mais de 1 milhão de cópias vendas, shows lotados e uma turnê que consolidou o Kiss como um dos maiores nomes do rock mundial na segunda metade dos anos 1970. Mais importante, o álbum representou um equilíbrio perfeito entre energia crua e apelo pop, definindo de vez o som característico da banda.

O disco mostra o Kiss no auge da inspiração, antes das tensões internas e dos excessos começarem a corroer a engrenagem. É frequentemente citado pelos fãs mais antigos como o último grande momento da fase clássica e, ao lado de Alive! e Love Gun (1977), forma uma das tríades essenciais do Kiss setentista.

Direto, sujo, divertido e cheio de ganchos, Rock and Roll Over é a tradução mais pura do que o Kiss sempre quis ser: uma banda de rock simples e poderosa, feita para tocar alto e conquistar o mundo uma plateia por vez.


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