Espadas, orquestras e Christopher Lee: a jornada do Rhapsody em Symphony of Enchanted Lands II (2004)
Em 2004, o Rhapsody viveu um momento de virada. Após fechar um ciclo glorioso com Power of the Dragonflame (2002), o grupo italiano retornava dois anos depois com um novo contrato — agora pela SPV — e um álbum que marcava o início de uma nova saga épica: The Dark Secret. Era o sexto trabalho de estúdio da banda e, de certa forma, representava tanto a consolidação de seu estilo quanto o início de uma tentativa de expansão sonora e conceitual.
Desde o debut Legendary Tales (1997), o Rhapsody havia se estabelecido como o principal nome do chamado “Hollywood metal”, um subgênero do power metal sinfônico que misturava elementos de música clássica, trilhas sonoras de cinema e fantasia épica. Com Symphony of Enchanted Lands II, Luca Turilli (guitarras) e Alex Staropoli (teclados) elevaram ainda mais essa ambição cinematográfica. O disco contou com orquestrações reais, corais grandiosos e a narração de ninguém menos que Christopher Lee, o lendário ator britânico que deu voz ao personagem Wizard King e trouxe uma aura de legitimidade e teatralidade poucas vezes vista em um álbum de metal.
A sonoridade é mais orquestral e menos voltada para o virtuosismo guitarrístico que marcou os primeiros trabalhos. Em vez disso, há uma busca por equilíbrio entre o peso e o drama — como se o Rhapsody tivesse deixado de ser uma banda de power metal com arranjos sinfônicos e se tornado uma trilha sonora com guitarras. Músicas como “Unholy Warcry” (a introdução perfeita para o novo capítulo da saga), “Never Forgotten Heroes” e “Erian’s Mystical Rhymes” representam o ápice dessa fusão entre fantasia, metal e cinema.
“The Magic of the Wizard’s Dream”, cantada em dueto entre Fabio Lione e Christopher Lee, é um dos momentos mais emblemáticos da carreira da banda, e uma das raras ocasiões em que o Rhapsody conseguiu romper a bolha do público metal e dialogar com fãs de música erudita e trilhas sonoras. Já “Sacred Power of Raging Winds” e “Guardiani del Destino” retomam o espírito heroico dos primeiros álbuns, com riffs acelerados e refrães grandiosos.
O disco inicia a The Dark Secret Saga, uma história que mistura profecias, guerras entre o bem e o mal e temas místicos que dialogam com o imaginário de Tolkien, Conan e Dungeons & Dragons. É o tipo de obra que exige entrega total: ou você mergulha no universo criado pelo Rhapsody, ou fica à margem achando tudo exagerado.
Na época, a recepção foi dividida. Parte dos fãs sentiu falta da energia mais direta dos discos anteriores, enquanto outros viram Symphony of Enchanted Lands II como o auge da maturidade artística da banda. O que é inegável é o impacto que o álbum teve sobre o metal sinfônico: ele abriu caminho para produções mais ambiciosas e influenciou uma geração de bandas a tratar o metal como narrativa, e não apenas como música.
Hoje, o disco continua impressionando pelo cuidado técnico e pela ousadia estética. É o Rhapsody em sua forma mais teatral e grandiosa — um espetáculo de fantasia épica traduzido em som, onde cada acorde parece parte de uma trilha sonora que nunca termina.
.jpg)
.jpg)
Comentários
Postar um comentário
Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.