Passengers: Original Soundtracks 1 (1995): o álbum esquecido do U2 que previu o futuro da música eletrônica
Lançado em novembro de 1995, Passengers: Original Soundtracks 1 é um dos projetos mais estranhos, desafiadores e ao mesmo tempo fascinantes da carreira do U2. O disco nasceu durante as sessões de Zooropa (1993) e foi registrado com Brian Eno, colaborador de longa data da banda e responsável por expandir seus horizontes desde The Unforgettable Fire (1984). O resultado não é um álbum convencional do U2, mas sim uma viagem experimental que rompe fronteiras entre o pop, o ambient e a música eletrônica.
A ideia era simples e excêntrica: criar trilhas sonoras para filmes inexistentes. O conceito nasceu de improvisos e colagens, com Eno conduzindo o processo como um cientista sonoro e o U2 atuando como sua banda de laboratório. O material foi creditado não ao U2, mas ao Passengers, uma identidade paralela criada para marcar a ruptura com o formato tradicional de canções. O próprio título, Original Soundtracks 1, sugeria a existência de uma continuação que nunca veio.
Musicalmente, o disco mergulha em atmosferas cinematográficas, muitas vezes abstratas. Há faixas que soam como fragmentos de sonhos (“United Colours”), outras que flertam com o techno e a música ambiente (“Slug”, “Always Forever Now”), e algumas que beiram o pós-rock e o minimalismo. Em meio a esse universo de texturas e experimentos, há também momentos de pura beleza como “Miss Sarajevo”, canção escrita para um documentário homônimo sobre o concurso de beleza realizado em plena guerra da Bósnia. A faixa conta com participação de Luciano Pavarotti e representa um dos grandes momentos emocionais da carreira do U2, unindo lirismo, tragédia e esperança em proporções quase operísticas.
“Your Blue Room” é outro destaque: uma composição contemplativa, com Eno no comando das ambiências e Bono entregando uma performance quase sussurrada, antes de Adam Clayton encerrar a faixa com sua única fala gravada em um álbum da banda. Já “Beach Sequence”, “Ito Okashi” e “Plot 180” reforçam a sensação de que o disco é mais uma trilha para um filme imaginário do que uma coleção de músicas.
Na época, o público e a crítica reagiram de forma confusa. Muitos não sabiam o que fazer com aquele álbum que soava pouco como o U2 e muito como um projeto de arte eletrônica. Mas com o tempo, Passengers passou a ser visto como uma peça-chave para entender a inquietação criativa do grupo nos anos 1990, uma era em que o U2 se recusava a repetir fórmulas e explorava seus próprios limites. É o registro de uma banda gigante disposta a se perder para encontrar novos caminhos.
O disco antecipou tendências da música eletrônica e ambient dos anos seguintes e consolidou a relação artística entre o U2 e Brian Eno em um patamar quase telepático. Não é um álbum para todos os momentos, mas quando você entra no seu universo, é impossível não se deixar levar.
Um capítulo marginal, mas essencial, na discografia de uma das maiores bandas de todos os tempos.


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