Supergrupo, conceito e peso: Ready to Be Hated aposta alto e acerta em cheio em The Game of Us (2025)
O nome provocativo do grupo sugere choque. O disco, porém, faz o caminho oposto: é difícil odiar o Ready To Be Hated. The Game of Us (2025) é um álbum de estreia que reúne músicos veteranos do metal nacional e entrega, com técnica e ambição, uma experiência sonora que tanto reverencia referências clássicas quanto busca uma linguagem contemporânea.
A receita é claramente de supergrupo: Thiago Bianchi, Fernando Quesada, Luis Mariutti e Rodrigo Oliveira reunidos em um trabalho com estética conceitual com direito a um encarte pensado como um “tabuleiro de jogo” — imagem que funciona como metáfora para as travessias emocionais que o disco explora. Essa ambição aparece na construção das faixas e na produção, assinada por Bianchi e por Hugo Mariutti.
O ponto de partida é o power e o prog metal, mas a banda vai além em cada uma das canções. Em certos momentos, Thiago Bianchi alcança um timbre e uma colocação que lembram Andre Matos como nunca antes: não é cópia, mas há passagens em que a linha melódica e a voz evocam aquele canto clássico do metal melódico brasileiro, o que empresta ao disco uma aura de legado. Outro ponto evidente é a ligação direta com o Angra dos primeiros discos: “For the Truth!” remete com naturalidade àquele período, tanto pela estrutura épica quanto pela citação à música erudita com trechos de “Bachianas Brasileiras No. 5”, de Heitor Villa-Lobos.
O single “Searching For Answers” surge como cartão de visitas: direto, com refrão pegajoso e produção que valoriza cada camada instrumental. “For the Truth!” merece destaque especial por essa ponte explícita com o Angra antigo — é onde a herança do metal brasileiro aparece mais nítida, sem soar saudosista. Merece também menção o peso onipresente do disco, com passagens em que Bianchi chega a se aproximar de um vocal gutural. Quesada está ótimo nos riffs, que transitam entre inspirações clássicas e atuais, enquanto Rodrigo Oliveira entrega um excelente trabalho na bateria. E Luis Mariutti, lenda do baixo brasileiro, reafirma seu status de referência incontestável do instrumento.
A produção contemporânea — polida, com espaço para detalhes — permite que a banda soe atual sem sacrificar o peso necessário ao gênero. Essa combinação de precisão técnica e modernidade de tratamento dá ao disco um perfil que pode agradar tanto a fãs tradicionais quanto a ouvintes mais recentes do metal.
The Game of Us chega como afirmação: um trabalho que reforça a vitalidade do metal nacional ao reunir veteranos que ainda têm o que dizer. Em um cenário repleto de projetos com foco no passado e infinitos tributos a álbuns e músicos que fizeram história – alguns deles idealizados e integrados por integrantes do próprio Ready To Be Hated -, The Game of Us soa como uma iniciativa não apenas bem-vinda e necessária, mas também como um trabalho sólido que não reinventa nenhum gênero, mas atualiza tradições com competência e personalidade, abrindo espaço para que o quarteto seja apreciado por quem busca um metal bem executado.
Em suma: provocador no nome, generoso no som — difícil realmente odiar quando a música funciona tão bem.
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