Band on the Run (1973) é o momento em que Paul McCartney finalmente para de fugir da própria sombra. Depois de anos enfrentando comparações inevitáveis com os Beatles e críticas pouco generosas à sua produção inicial pós-fab four, McCartney encontrou, em meio ao caos, o disco que redefiniria sua trajetória solo. A ironia é que tudo nasceu num cenário improvável: gravações em Lagos, na Nigéria, com o Wings reduzido a um trio e enfrentando desde problemas técnicos até questões de segurança. É a clássica história do desastre que vira obra-prima.
O que mais impressiona em Band on the Run é a confiança. A faixa-título, uma suíte em três atos que começa sombria, abre no refrão luminoso e termina impulsionada por guitarras ensolaradas, funciona como metáfora perfeita para o renascimento artístico de McCartney. “Jet”, por sua vez, é pop rock britânico em sua forma mais exuberante: refrão gigante, energia juvenil e uma produção que ainda soa viva mais de cinquenta anos depois. Já “Let Me Roll It” apresenta o lado mais cru de Paul, com riffs diretos e aquela atmosfera que muita gente relaciona a John Lennon, ainda que a música tenha mais a ver com o domínio melódico de McCartney do que qualquer tentativa de diálogo velado.
O disco inteiro é construído com esse equilíbrio raro entre ambição e espontaneidade. Canções como “Bluebird” e “Mamunia” trazem o frescor acústico que sempre acompanhou Paul, enquanto “Nineteen Hundred and Eighty-Five” encerra o álbum com grandiosidade cinematográfica, como se o Wings assumisse de vez o papel de banda de estádio que McCartney sempre soube liderar.
É aqui que Paul McCartney reencontra a própria pele e, finalmente, acelera sem olhar para trás.


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