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El Camino (2011): quando o The Black Keys decidiu soar gigante


El Camino
(2011) é o disco em que o The Black Keys decide, sem qualquer pudor, soar grande. É a guinada em que Dan Auerbach e Patrick Carney deixam de ser apenas um duo de garagem com alma blues e se transformam em uma banda capaz de escrever hits que atravessam fronteiras geográficas, estilísticas e geracionais. Se Brothers (2010) havia sido o alerta, El Camino é a confirmação: o Black Keys nasceu para ocupar espaços amplos.

A chave está na presença do produtor Danger Mouse, que aqui funciona como um verdadeiro terceiro integrante. Ele dá forma ao que antes era instinto. Mantém a sujeira, mas a molda. Mantém o groove, mas o organiza. Mantém a urgência, mas a direciona. O resultado é um álbum que não perde a essência caseira da banda, mas a reformula em arquitetura pop. O Black Keys nunca soou tão afiado e tão consciente da própria força.

O repertório é uma sequência de acertos. “Lonely Boy” dispensa apresentações: riff clássico instantâneo, refrão que se cola como chiclete e a sensação de que a música já existia antes de ser gravada. “Gold on the Ceiling” é glam, garage e pop ao mesmo tempo, escrita para explodir em arenas. “Little Black Submarines” é o alívio e o impacto: começa frágil, quase como um aceno ao passado bluesy do duo, e termina como catarse elétrica. As demais faixas, como “Sister”, “Run Right Back” e “Nova Baby”, sustentam essa mesma lógica: curtas, diretas e cheias de ganchos.


El Camino
é um disco curto (11 músicas em pouco mais de 38 minutos), preciso e impecavelmente divertido, o mais acessível da carreira da banda. A produção polida, longe de suavizar a identidade do grupo, reforça sua personalidade e expande seu alcance. O álbum combina energia crua e engenharia de estúdio com raro equilíbrio, e entrega um retrato perfeito da retomada rock retrô dos anos 2010.

Mas o ponto mais interessante de El Camino é outro: ele não tenta ser profundo. Não é introspectivo, não busca densidade emocional, não pretende revisitar o blues com reverência. É um álbum feito para movimentar, para bater o pé no chão, para criar momentos. Ele existe em uma superfície cuidadosamente construída, cheia de textura, cor e propósito.

O álbum soando cheio de frescor. Porque é, acima de tudo, um disco de confiança: de uma banda que entendeu o próprio tamanho, o que poderia fazer com riffs de três acordes e melodias diretas, e decidiu abraçar o pop sem se perder. O The Black Keys pode ter passado por muitas fases, mas aqui alcançou um equilíbrio raro: aquele ponto exato entre o charme caseiro do início e a ambição global que veio depois.

É o tipo de disco que não precisa reinventar nada para se tornar memorável. Ele apenas faz absolutamente tudo muito bem!


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