Há histórias de Tex que funcionam como aventuras tradicionais: rápidas, diretas, cheias de tiroteios, cavalgadas e justiça. Oklahoma! não é uma delas. Aqui, o roteirista Giancarlo Berardi, o mesmo nome por trás da poesia cotidiana de Ken Parker e do refinamento narrativo de Julia, amplia o faroeste bonelliano para algo mais ambicioso. É uma história longa, densa, quase um romance ilustrado, construída em cima de um episódio real da história dos Estados Unidos: a corrida pelos lotes de terra no Oklahoma.
Logo nas primeiras páginas fica claro que Berardi não está interessado apenas em mover Tex e Kit Carson de um ponto a outro. Seu foco está nos detalhes humanos: nas famílias que atravessam o país em busca de um pedaço de chão, nos oportunistas que usam a confusão para enriquecer, nos conflitos entre esperança e brutalidade que moldam a fronteira. A narrativa respira, avança com calma, cria expectativas e acompanha personagens que entram e saem de cena como se fossem parte de um grande mosaico social. Ao longo de quase 350 páginas, Oklahoma! abraça o épico sem perder a intimidade.
O trabalho do ilustrador Guglielmo Letteri sustenta esse tom com segurança. Seus cenários amplos, cheios de poeira e tensão, capturam um Oeste menos romântico e mais humano. Letteri sabe alternar grandes panoramas como caravanas, multidões e planícies com momentos silenciosos, onde um close no rosto de um pioneiro diz mais do que qualquer diálogo. É uma arte clássica, sólida, que não tenta reinventar nada, mas entrega exatamente o que a história precisa: densidade, atmosfera e credibilidade.
Publicada originalmente em 1991 na Itália, Oklahoma! costuma aparecer entre as melhores histórias modernas de Tex, elogiada pelo respiro épico, pela força dramática e pela capacidade de Berardi de imprimir seu estilo mais literário ao ranger. A importância da série foi tão grande que fez gerar uma nova publicação na Bonelli, a Maxi Tex, que agora, em sua décima edição no Brasil, traz uma republicação da história no preto e branco original. Claro que existem vozes discordantes: alguns enxergam aqui um Tex menos “quadradinho”, menos alinhado ao padrão tradicional das histórias curtas e diretas. Mas justamente essa divergência confirma a força do material: Oklahoma! é uma HQ que não se contenta em repetir fórmulas.
No fim, o que fica é a impressão de ter atravessado uma grande jornada, não apenas com Tex, mas com todos aqueles que sonham com um pedaço de terra, com uma vida nova, com algum tipo de justiça possível em meio ao caos. É uma daquelas histórias que expandem a percepção do que uma série tão longeva pode oferecer. E, para quem acompanha Tex há décadas ou está descobrindo o personagem agora, Oklahoma! se impõe como leitura obrigatória: longa, intensa, humana e inesquecível.



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