Discografia Básica: Airto Moreira


Por Ugo Medeiros
Jornalista e Colecionador
Coluna Blues Rock

Vivendo nos EUA desde 1967, Airto Moreira desenvolve trabalhos ligados a world music e é professor de Etnomusicologia na UCLA. Atua também como produtor e educador em diversos países. Reconhecido por produtores e maestros como o percussionista mais popular do mundo, é inegável a sua contribuição para o desenvolvimento e manutenção do alto nível da chamada world music. Entre os artistas de renome mundial com quem ele já se apresentou e gravou estão Antonio Carlos Jobim, Miles Davis, Chick Corea, Wayne Shorter, Herbie Hancock, Stanley Clarke, Carlos Santana, Gil Evans, Gato Barbieri, Paul Simon, Quincy Jones, entre outros.

Airto Moreira nasceu em 1941, em Itaiópolis, interior de Santa Catarina, e viveu seus primeiros anos em Curitiba. Antes mesmo de literalmente andar com as suas próprias pernas já batucava no chão cada vez que ouvia no rádio uma música ritmada. Se isso preocupava a sua mãe, o mesmo não acontecia com a sua avó, que reconheceu o seu potencial e o encorajou a se expressar musicalmente. Aos seis anos de idade já recebia elogios pelo seu modo de cantar e tocar percussão. Em seguida a emissora de rádio local lhe deu um programa, que ia ao ar todas as tardes de sábado. Aos treze anos tornou-se músico profissional tocando percussão, bateria e cantando em bandas de baile. Aos dezesseis anos mudou-se para São Paulo, passando a apresentar-se regularmente em casas noturnas e programas de televisão como percussionista, baterista e cantor.

Em 1965, no Rio de Janeiro, conheceu a cantora Flora Purim. Flora foi para os Estados Unidos em 1967, e, logo depois, Airto a seguiu. Uma vez em Nova York, começou a tocar com músicos importantes como Reggie Workman, J.J. Johnson, Cedar Walton e o baixista Walter Booker. Foi através de Booker que começou a tocar com Cannonball Adderley, Lee Morgan, Paul Desmond e Joe Zawignul.

Em 1970 Zawignul indicou Airto para uma sessão de gravação com Miles Davis, para o álbum Bitches Brew. Depois disso, Davis convidou-o, junto com Hermeto Pascoal, para juntar-se ao seu grupo que, na época, era composto por alguns ícones do jazz como Wayne Shorter, Dave Holland, Jack DeJohnette, Chick Corea e, mais tarde, John McLaughlin e Keith Jarrett. Airto integrou a grupo de Miles Davis por dois anos, aparecendo nos álbuns Live/Evil, Live at the Fillmore, On the Corner, The Isle of Wight, Bitches Brew e, mais tarde, nas apresentações de Fillmore.

Airto foi convidado para integrar a formação original do Weather Report com Wayne Shorter, Joe Zawignul, Miroslav Vitous e Alphonse Mouzon, tendo gravado com eles o álbum The Weather Report. Logo em seguida juntou-se ao Return to Forever de Chick Corea com Flora Purim, Joe Farell e Stanley Clarke. com o qual gravou os álbuns Return to Forever e Light as a Feather. Em 1974 formou, com Flora Purim, a sua primeira banda nos Estados Unidos: Fingers.

Ficou conhecido nos os anos setenta e oitenta como um dos percussionistas mais populares do mundo. Seu domínio sobre os instrumentos, aliado à sua habilidade em tirar o som certo no momento exato, fez dele o número um na lista dos produtores e band leaders. Seu trabalho com Quincy Jones, Herbie Hancock, George Duke, Paul Simon, Carlos Santana, Gil Evans, Gato Barbieri, Michael Brecker, The Crusaders, Chicago e muitos outros - incluindo a participação em trilhas sonoras para o cinema como em The Exorcist, Last Tango in Paris, King of the Gypsies e Apocalypse Now -, representa só uma pequena parte da contribuição de Airto para a música nas últimas três décadas.

O impacto do seu trabalho levou a revista Downbeat a considerar a categoria ‘percussão’ na votação dos seus leitores e críticos, na qual Airto foi o vencedor absoluto por mais de vinte vezes, desde 1973. Nos últimos anos foi considerado o percussionista número um por publicações conceituadas como Jazz Time, Modern Drummer, Drum Magazine, Jazzizz Magazine e também por várias publicações européias, latino-americanas e asiáticas.

Airto vem promovendo a causa da música percussiva em todo o mundo como membro do Planet Drum Percussion Ensemble junto com Mickey Hart, baterista do The Grateful Dead, que inclui também o grande especialista em conga Giovanni Hidalgo e o virtuoso tablista Zakir Hussein, do mesmo modo que Flora Purim, Babatunde Olatunji, Sikiru e Viku Vinakrian, com o qual receberam o Grammy em 1991, na categoria World Music. O instrumentista contribuiu ainda para o Grammy recebido pela Dizzy Gillespie’s United Nations Orchestra na categoria Melhor Álbum de Jazz ao Vivo.

Também compôs e tocou a sua Brazilian Spiritual Mass em um especial de duas horas para a TV Alemã, com a WDR Philharmonic Orchestra em Colônia. Essa rara performance foi registrada em vinil para o selo Harmonia Mundi e licenciada em vídeo distribuído em todo o mundo.

Mais recentemente, foi músico convidado da Boston Pops Philharmonic Orchestra em especial para a PSB TV, e também com o Smashing Pumpkins no Unplugged da MTV, com o grupo japonês de percussão Kodo e no último CD Exciter, do grupo Depeche Mode.

Como professor no Departamento de Etnomusicologia da UCLA, vem abrindo novos horizontes em termos de conceitos musicais e energia criativa. Divide o seu tempo entre as gravações em estúdios, workshops e shows, criando novos projetos, bem como pesquisando novos materiais para futuras performances nos Estados Unidos, Europa, Ásia e América Latina.

(texto biográfico por Fernando Jardim, do site eJazz)

Quarteto Novo - Quarteto Novo (1967) *****

Um dos discos mais importantes da música brasileira, perfeito do início ao fim. Os quatro músicos uniram a bossa nova e o jazz à rica sonoridade nordestina. "O Ovo", uma das primeiras composições de Hermeto em parceria com Geraldo Vandré, apresenta uma flauta hipnotizante e uma emoção constante. "Fica mal com Deus" e "Canta Geral" (outra feita pela dupla Pascoal/Vandré) têm uma percussão bem marcada e mostram grande entrosamento dos integrantes. "Algodão" é uma viagem pelos seus 7:22 minutos, a faixa mais longa do álbum. "Síntese" e "Vim de Santana" são exemplos perfeitos da mistura entre jazz, bossa nova e a música-de-raiz brasileira.

"Misturada" é o “crème de la crème”. Primeiramente, um solo de bateria sensacional, em que as rufadas e a quebração de pratos frenéticos são trocadas por uma aula rítmica com total domínio sobre o tempo (e muito contra-tempo!). Em seguida, uma base pesada com dois violões e uma percussão “rasteira” que não larga a melodia (rock’n’roll na veia!), até que entra a flauta e conduz novamente à leveza. Simplesmente GENIAL!

Se aparecesse um ET na minha frente e me perguntasse o que é música brasileira, responderia apenas duas palavras: Quarteto Novo.

Natural Feelings (1970) ***

Se o ouvinte ainda não conhece o trabalho autoral de Airto, é aconselhável não começar por este disco, que é o primeiro do músico. Contando com a colaboração de Flora Purim, Hermeto Pascoal, Sivuca (arranjador e multi-instrumentista) e Ron Carter, o trabalho traz boas músicas, como "Alue" e "Mixing", além da psicodélica "Terror".

Seeds on the Ground (1971) ***1/2

Para o segundo disco Airto manteve os mesmos músicos e ainda convocou Dom Um Romão (baterista e percussionista com passagem pelo Weather Report) para o time. "O Galho da Roseira Part 2" é o grande destaque deste trabalho mais maduro.

Fingers (1972) ****1/2

Uma porrada muito bem dada! Logo de início, Airto e banda apresentam uma sequência matadora: abrindo o disco, "Fingers" e "Romance of Death", dois ótimos fusions; "Merry-Go-Round", um simpático baião; e "Wind Chant", com uma nervosa evolução. O encerramento fica por conta da ótima "Tombo in 7/4", que conta com um coro e uma percussão de samba de arrepiar.

Free (1972) ****

Ao lado de uma verdadeira seleção que contava com Chick Corea, George Benson, Hubert Laws (flauta), Joe Farrell (saxofone), Keith Jarrett, Ron Carter, Stanley Clarke e outros, Airto nos presenteou com um grande trabalho. A primeirona, "Return to Forever", é um fusion psicodélico da melhor qualidade. "Flora’s Song" traz um bom free jazz. O clima de psicodelia volta em "Free". E o disco ainda reserva "Creek [Arroio]", excelente canção em que flauta, saxofone e piano mostram entrosamento perfeito.

Virgin Land (1974) ****

Outro ótimo disco de Airto, neste com participações de George Duke e Stanley Clarke. O álbum abre bem com quatro musicaças: "Stanley’s Tune", "Musikana", "Peasant Dance" (um fusion com influências árabes) e "Virgin Land". A saidera fica por conta da funkeada "I Don’t Have to Do What I Don’t Want to Do".

Identity (1975) ***1/2

Ao lado de Egberto Gismonti, Herbie Hancock e Wayne Shorter, o percussionista fez um bom disco. "The Magicians" e "Encounter [Encontro no Bar]" são as faixas mais marcantes, mas há também outras boas canções, como "Wake up Song [Baião do Acordar]" e "Tales from Home [Lendas]".

Struck by Lightning (1989) ***1/2

Chick Corea, Herbie Hancock e Stanley Clarke foram as contratações de peso para este bom trabalho. O álbum apresenta duas músicas que são didáticas a todo aprendiz de percussão: "It’s Time for Carnival" e "Berimbau First Cry." A segunda metade do disco é excelente: três faixas extremamente jazz, "Struck by Lightning", "Samba Louco" e "Seven Dwarfs"; uma psicodélica para não perder o costume, "Samba Nosso"; e uma em que Airto mostra todo o seu virtuosismo, "Skins & Rattle".

Killer Bees (1989) ****

Com uma banda que incluía Chick Corea, Herbie Hancock e Stanley Clarke, o projeto não podia ter outra sonoridade senão jazz. "Be There" é composta por uma ótima linha de baixo e por arranjos muito bem desenvolvidos. Outra bela faixa é "Chicken in the Mind", a última da bolacha, em que Herbie Hancock apresenta o seu cartão de visitas.

Revenge of the Killer Bees (1998) ****

Para a revanche das abelhas assassinas, foram mantidos os mesmos “zangões” do primeiro. Um grande disco, neste flertando em duas composições, "City Sushi Man" e "Chicken in the Mind", com uma batida característica da música eletrônica (quando bem feito e utilizado, sem problemas...). "Be There" é um jazz funk sensacional. "Nevermind" encerra o trabalho de forma impecável.

Comentários

  1. Esse é O cara da percussão. Ele e o Naná Vasconcelos. Excelente texto, Ugo, tá de parabéns. Concordo em gênero, número e grau com a descrição do Quarteto Novo.
    Ronaldo

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  2. Tenho esse Quarteto Novo também, e é um disco pra lá de sensacional. Faria um War Room com ele aqui na Collector´s para ver o que o pessoal acharia. E vamos nessa!

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  3. O Quarteto Novo acompanhou Geraldo Vandré nos anos 60.

    Saudações,

    Izaias.

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