Rock Raro: Freedom – Freedom At Last (1970)


Por Wagner Xavier
Com edição de Ricardo Seelig
Colecionador
Scream & Yell


O final dos anos sessenta foi uma época mágica e pródiga em termos de bandas de rock, principalmente na Inglaterra e nos Estados Unidos. Isto talvez explique o motivo de tantos artistas terem criado obras maravilhosas e somente agora muitos destes discos serem apresentados para uma nova geração de ouvintes. O Freedom está neste seleto grupo e foi responsável por um dos melhores álbuns daquele período, Freedom At Last, lançado em 1970.

A origem da banda remonta ao ótimo Procol Harum de Gary Brooker, conhecido pelo mega hit “A Whiter Shade of Pale”, que foi lançado em 1967 e trazia em sua formação o baterista e vocalista Bobby Harrison e o guitarrista Ray Royer. Estes dois músicos se juntaram ao tecladista Wike Lease e ao baixista Steve Shirley na primeira encarnação do Freedom.


A estreia fonográfica do quarteto aconteceu com o álbum Black on White, uma trilha sonora de um filme italiano do diretor Dino De Laurentis. Apesar de o estilo ser muito próximo ao psicodelismo da época, a banda não ficou muito feliz com o resultado final.

Após indas e vindas, embalado pela onda de power trios como Cream e Jimi Hendrix Experience e fortemente influenciados pelo blues rock do Led Zeppelin, Harrison junta-se ao guitarrista Roger Saunders e ao baixista Walter Monaghan para formar a segunda versão do Freedom, responsável pela fama do grupo.


Freedom At Last, o segundo LP do Freedom - e primeiro com esta formação - é um trabalho de primeira linha quando o assunto é rock and roll. O disco abre com “Enchanted Wood”, faixa que já mostra a pegada da banda, destacando o vocal com grande qualidade de Harrison, o baixo no melhor estilo e a guitarra a todo momento. Uma maravilha de música! A próxima é a versão para um blues de Howlin Wolf chamado “Deep Down in The Bottom”, aqui totalmente revisitado no melhor estilo zeppeliniano. Novamente a banda demonstra a garra que lhe era peculiar.

“Have Love Will Travel” é mais popzinha, porém destaca uma pegada bem legal. A próxima faixa é de matar: trata-se de uma versão estupenda da balada “Cry Baby Cry”, dos Beatles, cuja versão original está no White Album de 1968. Vale ouvir para perceber a diferença do vocal de Bobby Harrison. Se no White Album “Cry Baby Cry” está “perdida” entre as trinta músicas do álbum, em At Last o Freedom conseguiu criar um clima de grande destaque e fortes emoções.

Para aumentar a emoção, a banda ainda teve inspiração para recriar outro clássico e transformá-lo em algo mais forte que sua versão original. Trata-se da linda “Time of the Season”, música retirada do clássico absoluto Odessey and Oracle, lançado em 1968 pelo grupo inglês The Zombies. Atenção especial para os solos de guitarra e para o acompanhamento do baixo.

Na sequência temos novamente o blues dando a tônica do disco. Primeiro “Hoo Doo Man”, e na depois um hino de Willie Dixon, a regravadíssima “Built for Comfort”. “Fly”, a próxima, é muito interessante, bem no estilo em voga na época. Em seguida surge “Never Loved a Girl”, de Dell Shanon, uma beleza de balada com destaque novamente para o belo vocal de Harrison. A décima faixa é “My Life”, cantada numa levada incrivelmente similar com a que David Bowie faria em discos como Hunky Dory e The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders From Mars. Teria Bowie, antes de alcançar a glória, sido influenciado pelo Freedom?

Nesta altura o álbum já venceu a prova da qualidade, mas ainda não acabou. “Can’t Stay” encaminha o trabalho para o final com um refrão que, sinceramente, emociona. Para encerrar, “Dusty Track”, que deixa uma vontade de começar tudo de novo.

Infelizmente, assim como havia acontecido no primeiro álbum, o Freedom passou quase que despercebido. Certamente a falta de um bom empresário e de investimento na carreira fizeram a diferença. É certo que a banda não pode ser considerada um marco de criatividade como Beatles, Love ou Cream, ou mesmo outros nomes de menor vulto, mas um álbum como Freedom At Last merece um melhor reconhecimento. Após o lançamento deste disco, o Freedom excursionou pelos Estados Unidos abrindo shows para bandas como Jethro Tull, Black Sabbath e Curved Air (este último, diga-se de passagem, era bem mais fraquinho que eles).


Em 1970 lançaram o homônimo Freedom, novamente um discão desde a faixa de abertura, “Nobody”, até a última, “Frustred Woman”, que demonstra uma banda passando pelo teste do terceiro álbum com classe, centrando o foco no repertório essencialmente próprio.


Through the Years, quarto disco da banda, já exibe a desilusão dos caras pelos trabalhos anteriores não acontecerem da forma que se esperava. Apesar de interessante, Through the Years não demonstra a mesma força dos dois álbuns anteriores. Contando com apenas seis faixas, o disco é o epitáfio da banda, que encerrou suas atividades em 1972.


Após o fim todos os músicos partiram para trabalhos diversos, porém nada de grande destaque qualitativo quanto o Freedom. Bobby Harrison criou a banda Snafu com o futuro Whitesnake Micky Moody; Roger Saunders passou a trabalhar como compositor para várias bandas, inclusive juntando-se à banda de Gary Glitter. No início de 2000, Roger Saunders faleceu vítima de um câncer.

Os discos em vinil do Freedom são difíceis de serem encontrados. Through the Years chegou a ter uma edição nacional na época, mas hoje é bem difícil de achar. Quanto aos CDs, em 2000 a gravadora inglesa Angel Air lançou uma edição dupla contendo o ótimo Freedom At Last e o bom Through the Years. Com alguma sorte, é possível ainda encontrar essa versão por aí. O álbum Freedom também teve uma reedição caprichada com livreto informativo, também pela Angel Air.

Comentários

  1. Legal o texto referenciado uma banda pouco conhecida, que tem sim sua qualidade, mas nada de extraordinário, é razoável no meu conceito. Minha crítica vai ao que menciona o Curved Air. Acho que pra falar bem de uma banda não precisa subjulgar outra. Acho que essa opinião de considerar o Curved Air "bem mais fraquinho" que o Freedom é peculiar do autor (pra não dizer única). Chamar de fraquinho o trampo de gente como Darryl Way, Sonja Kristina e Francis Monkman é um tremendo equívoco...
    Abraço!
    Ronaldo

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  2. Ronaldo, também não acho que para enaltecer o trabalho de uma banda seja preciso falar mal de outra. Concordo com você.

    Abraço.

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  3. Conheço apenas o Through The Years, e lamento que o autor tenha menosprezado o Curved Air. Acho o Through The Years um bom disco, e sem total comparação com os 4 primeiros álbuns do Curved Air, principalmente por ser um estilo diferente. Air Conditioning, Second Album e Phantasmagoria são pedras de ouro a serem garimpadas em cavernas muito profundas, e o Air Cut, apesar de mais fraquinho, é uma boa obra.
    Bom texto, resgatando uma boa banda, mas não precisava a comparação com o Curved Air.

    Flw

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  4. Pessoal,
    Realmente faz todo o sentido não comparar. Ambas boas são muito boas e fica o registro e feedback,

    Abracos
    Wagner Xavier

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