Grave: crítica de Endless Procession Of Souls (2012)

Apesar de sua já extensa trajetória - quase 25 anos na ativa -, o Grave jamais figurou entre os nomes mais aclamados do death metal mundial. Até mesmo na Suécia, onde pavimentou o gênero, pode-se dizer que a banda está um passo atrás de Entombed, Dismember e Unleashed, os três pilares absolutos do swedish death metal.

As razões para isso podem ser várias. Me atenho a três: após grande estreia com Into the Grave (1991), a banda não conseguiu manter o ritmo nos álbuns seguintes. Além da constante alternância de integrantes, enfrentou ostracismo de seis anos, entre 1996 e 2002, período no qual não lançou material inédito. Por fim, não possui em sua discografia um álbum fora do comum, que destoe dos demais e seja unanimidade como obra-prima.

Em outras palavras, o Grave não tem, por exemplo, seu próprio Altars of Madness, seu próprio Seven Churches, seu próprio Left Hand Path. Algum disco muito acima da média em termos de qualidade e que sintetize a essência de seu som.

Em contrapartida, tal fator torna a banda extremamente regular e constante. A propósito, algo igualmente louvável. A cada novo lançamento, vem também a certeza de uma sonoridade sempre impiedosa. Death metal sueco com amplo conhecimento de causa.

Em Endless Procession of Souls, lançado em 27 de agosto, a história não é diferente. Porém, desta vez Ola Lindgren, a mente maligna por trás da banda, conseguiu ir além. Os destaques primordiais continuam sendo suas linhas de guitarra e os vocais, só que agora com uma roupagem bem mais eficiente. Produção, mixagem e masterização ficaram novamente a cargo de Ola, que acertou em cheio ao mudar e deixar o som menos grave, menos abafado do que, por exemplo, em Dominion VIII (2008), que exagerava nesse aspecto.

No novo trabalho, o line-up do Grave conta com duas novidades: o baixista Tobias Cristiansson (ex-Dismember) entrou como substituto de Fredrik Isaksson, e Mika Lagrén foi acrescentado como segundo guitarrista, com o grupo voltando a ser um quarteto.

Logo na abertura, após “Dystopia”, uma intro boa e simples, temos duas candidatas a melhores canções do disco: “Amongst Marble and the Dead”, com uma ótima levada de bateria punk/d-beat, e “Disembodied Steps”, com riffs certeiros, um excelente refrão e, desde já, considerada clássico imediato do Grave.

Outros destaques são “Passion of the Weak”, “Winds of Chains” e “Encountering the Divine”, que vêm em sequência em formam uma tríade maldita. Vale ressaltar, e muito, o trabalho do baterista Ronnie Bergerståhl, que não apela para blast beats em demasia e dá uma aula de pedal duplo, fazendo uso desse artifício em momentos pontuais, sem torná-lo pedante.

Ao longo da audição fica evidente o quanto Ola Lindgren bebe na fonte Hellhammer/Celtic Frost. Não de forma negativa, mas aplicando muito bem o que aprendeu com Tom G. Warrior. Exemplo maior disso é justamente “Winds of Chains”. Ademais, a tendência do Grave de incorporar elementos do thrash metal também segue em curso e é latente em “Perimortem”, totalmente calcada na escola alemã do estilo. Possui riffs e uma levada de bateria que a credenciam a figurar facilmente em qualquer disco de Sodom ou Kreator.

Endless Procession of Souls se encerra com “Epos”, dona de mais de sete minutos e repleta de partes cadenciadas. Aliás, esse é outro triunfo do Grave: em muitos momentos, ir na contramão da velocidade gratuita e apostar em passagens moderadas, despejando uma procissão de riffs mais atmosféricos. Sem falar na arte da capa, feita por Costin Chioreanu, e que também é bem bacana. Ponto para os suecos de Visby, certamente donos de um dos melhores discos de death metal de 2012.

Nota 9



Faixas:
1. Dystopia 0:35
2. Amongst Marble and the Dead 5:21
3. Disembodied Steps 5:42
4. Flesh Epistle 3:23
5. Passion of the Weak 4:36
6 Winds of Chains 5:37
7 Encountering the Divine 3:55
8 Perimortem 4:39
9 Plague of Nations 3:35
10 Epos 7:45

(por Guilherme Gonçalves)

Comentários