O vôo multicolorido do comandante Ginger Baker

Após a dissolução do Cream em novembro de 1968 e a tentativa de manter o power trio de pé com a criação do Blind Faith, cada um dos integrantes partiu para suas carreiras individuais. O guitarrista Eric Clapton tocou no Delaney & Bonnie, Derek and The Dominos e depois seguiu sua carreira solo. Já o baixista Jack Bruce lançou o álbum Songs for a Taylor e obteve certo sucesso no ano de 1969. Finalmente, o baterista Ginger Baker se uniu a Steve Winwood (com quem já havia trabalhado no Blind Faith) e a outros músicos para seguir um estilo bem diferente do Cream/Blind Faith.

A história do Ginger Baker's Air Force começou após o último show do Blind Faith, em 24 de agosto de 1969 em Honolulu, na HIC Arena. Com o fim do concerto, Winwood terminou sua turnê e foi conversar com Baker. Steve estava querendo reviver sua antiga banda, o Traffic, e Eric Clapton havia trocado umas ideias com ele. O objetivo era seguir viagem com a dupla de  rock/soul Delaney & Bonnie. Anos depois, Clapton afirmou em entrevistas que nessa época a dupla estava com dificuldades em conseguir assinar contratos e estava necessitada de dinheiro. Apesar da tentativa de Eric, Ginger contou a Winwood suas próprias ideias de formar uma "big band" apenas para fazer algumas gigs e se divertir. De imediato, Steve e  Chris Wood (saxofonista do Traffic e colega de banda de Steve) aceitaram a proposta.

Então, em janeiro de 1970 o Mark I do Ginger Baker's Air Force havia se formado. Contava com a presença de Danny Laine (guitarras e vocais), Rick Grech (baixo e violino), Graham Bond (sax alto), Jeanette Jacobs (vocal), Phil Samen (bateria, junto com o próprio Ginger), Remi Kabaka (percussão) e Harold Mc Nair (acompanhando Chris Wood no sax alto e na flauta doce). Por fim, Steve Winwood nos vocais e teclados. Essa mistura de músicos talentosos resultou em um som de altíssima qualidade, forte e eclético ao mesmo tempo.



O primeiro show foi realizado no Birmingham Town Hall em 12 de janeiro de 1970. Três dias depois, a banda enchia o Royal Albert Hall para um concerto épico e memorável. E foi este show que deu origem ao primeiro disco do grupo, chamado Ginger Baker's Air Force, lançado em marco de 1970. O álbum abre com a música "Da Da Man", que possui um tema sensacional executado com maestria pelo sax tenor Chris Wood. É uma canção que foge do jazz fusion habitual de Herbie Hancock, por exemplo. Ele possui uma energia diferente, dá vontade de sair cantando o tema e dançar escondido na sala de casa.

A próxima, "Early in the Morning", já é mais tranquila e conta com uma flauta muito bonita. No final acaba acelerando um pouco o ritmo, mas volta à calmaria do começo. Ainda temos uma versão de "Toad", música presente no álbum Fresh Cream (1966), na antiga banda de Baker, que é sensacional. Essa versão conta com um solo de bateria de mais de 6 minutos!




Após esses shows, a banda realizaria uma pequena turnê, mas Steve Winwood e Chris Wood tinham outros projetos paralelos e deixaram o grupo. Isso fez nascer o MK II do grupo, agora com Alan White nos teclados e Colin Gibson no sax tenor. O grupo realizou uma pequena turnê pelo Reino Unido e Europa e gravou o segundo álbum, Ginger Baker's Air Force 2, em agosto de 1970, sendo produzido e gravado em estúdio desta vez. Essa formação foi trocada pela terceira e última do grupo para a realização de um show no Madison Square Garden e continuação da turnê anterior.

Com algumas viagens de Ginger Baker até a África e seu envolvimento maior com a música local, o baterista foi se apaixonando cada vez mais pelo continente e sua cultura. Em 20 de janeiro de 1971, o Ginger Baker's Air Force realizou seu último show em Sutton, Inglaterra. A partir daí Baker foi realizar seu sonho de construir um estúdio na Nigéria e tocar com os músicos locais, incluindo seu novo amigo, Fela Kuti. Toda essa mudança lhe faria bem, pois o clima era mais ameno e o deixava distante de drogas mais pesadas.

Por fim, o Air Force é uma banda com dois álbuns que fogem do convencional de Ginger Baker que estamos acostumados a ouvir no Cream ou no Blind Faith. Podemos ver o jeito agressivo e inovador de Baker, além de uma maneira mais calma de nosso ruivo explosivo. Irá agradar a todos os amantes de jazz, mas sem perder os seguidores de um bom e velho rock.


 

(por Bruno Ascari)

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